O presidente dos Correios, general Juarez Cunha, anunciou nesta quarta-feira, 19, sua saída do cargo pelo Twitter. Na última sexta-feira 14, o presidente Jair Bolsonaro disse que iria demiti-lo porque Cunha “foi ao Congresso e agiu como sindicalista”, em referência à participação do militar em uma audiência pública no dia 5 de junho, em que fez críticas à privatização da estatal.
Segundo revelou o blog Radar, em um debate realizado na Comissão de Legislação Participativa, comandada por deputados petistas, o general fez um discurso que agradou à plateia composta de sindicalistas e servidores da empresa. “É uma empresa estratégica, autossustentável, insubstituível. Uma empresa cidadã, orgulho do Brasil”, disse. No final, Cunha posou para uma foto com o grupo, e postou-se ao lado de deputados do PT e do PSOL.
Após o anúncio de demissão, Cunha foi trabalhar normalmente na segunda-feira e disse, durante uma palestra a funcionários, que só deixaria o cargo após a formalização da demissão. O general terminou o evento vestindo um chapéu de carteiro. Também na segunda-feira, o porta-voz da Presidência, Otávio Rêgo Barros, dissera que Bolsonaro não havia decidido o momento adequado de fazer a troca no comando da estatal.
Privatização
A venda dos Correios foi anunciada pelo próprio Bolsonaro em entrevista exclusiva a VEJA, em sua edição 2637, ao ser indagado sobre o que o governo faria após a aprovação da reforma da Previdência. “Vamos partir para a reforma tributária e para as privatizações. Já dei sinal verde para privatizar os Correios. A orientação é que a gente explique por que é necessário privatizar”, disse.
Desde o início de 2018, a principal fonte de receita da estatal deixou de ser o monopólio postal — a entrega de cartas, largamente substituídas por várias formas de mensagem eletrônica — e passou a ser a entrega de encomendas, mudança impulsionada, sobretudo, pelo crescimento do e-commerce. A questão é que a ineficiência da empresa na entrega final — que no jargão da área é chamada de last mile delivery — vem minando a participação dos Correios no setor. No prazo previsto pelo governo, as transportadoras privadas ultrapassarão a estatal na prestação do serviço. O ponto de virada inviabilizaria por completo a sua venda.