Indicadores econômicos servem como um termômetro da economia, e a melhora em diversos destes termômetros, como mostra reportagem de VEJA desta semana, aponta que a pior parte do choque causado pela pandemia do novo coronavírus ficou para trás. Porém, cada vez mais ficam claros os desafios para a retomada sustentável da economia, que passam por um estado menos burocrático. Parte desse desafio pelo aumento de produtividade é refletido no emprego, motor do desenvolvimento.
Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgados nesta sexta-feira, 27, a taxa de desocupação bateu 14,6% no terceiro trimestre do ano. No período encerrado em setembro, 14,1 milhões de pessoas estavam desempregadas.
Por mais mais que soe estranho, a explicação para o aumento da taxa de desemprego está diretamente ligada a recuperação da economia e, por isso, era esperada. Com atividades voltando a funcionar e os indicativos de melhora, mais gente passou a procurar emprego. A taxa de desocupação do IBGE considera desempregados somente aqueles que ativamente procuram por uma vaga. “Uma grande parte das pessoas ficaram sem sair de casa e estavam fora do mercado e, assim, elas não são contadas, Mas, com esse reaquecimento, muita gente decidiu voltar a procurar, vendo que há contratações sendo feitas. Com mais gente procurando emprego, o indicador de desocupação sobe”, explica Hélio Zylbestajn, professor da USP e pesquisador da Fipe.
A analista da Pnad Contínua, Adriana Berimguy, vai na mesma linha. Segundo ela, o aumento na taxa de desemprego reflete a flexibilização das medidas de isolamento social para controle da pandemia de Covid-19. “Houve maior pressão sobre o mercado de trabalho no terceiro trimestre. Em abril e maio, as medidas de distanciamento social ainda influenciavam a decisão das pessoas de não procurarem trabalho. Com o relaxamento dessas medidas, começamos a perceber um maior contingente de pessoas em busca de uma ocupação”, explica.
No período, a taxa de desocupação subiu em dez estados e ficou estável nos demais. As maiores taxas foram na Bahia (20,7%), em Sergipe (20,3%) e em Alagoas (20,0%). Já a menor foi registrada em Santa Catarina (6,6%). Os maiores crescimentos da taxa de desocupação foram registrados na Paraíba (4 p.p.), no Amapá (3,8 p.p.) e em Pernambuco (3.8 p.p.).
Os dados apontam que, por mais que haja retomada, o emprego é um dos grandes desafios a serem enfrentados. De acordo com a Pnad, o contingente de ocupados reduziu 1,1% na comparação com o segundo trimestre, totalizando 82,5 milhões de pessoas, o menor patamar da série histórica iniciada em 2012. Houve uma retração de 883 mil pessoas. Com isso, o nível de ocupação foi de 47,1%, também o menor da série, uma queda de 0,8 ponto percentual frente ao trimestre anterior (47,9%). Desde o trimestre encerrado em maio, o nível de ocupação está abaixo de 50%, o que aponta que menos da metade da população em idade para trabalhar está ocupada no país.
Sinais de retomada
A maioria das atividades apresentou fechamento de vagas, mas houve reação de duas: A construção civil registrou aumento de 7,5%, o que representa 399 mil pessoas a mais trabalhando no setor. Já na agricultura a alta foi de 3,8%, com mais 304 mil trabalhadores. De acordo com a pesquisadora do IBGE, os dados da construção refletem um movimento de retomada que pode acontecer com outras atividades nos próximos meses. “A atividade da construção foi a que mais aumentou no período. Isso porque pedreiros ou outros trabalhadores conta própria, que tinham se afastado do mercado em função do distanciamento social, retornaram no terceiro trimestre com a reabertura das atividades e a demanda por pequenas obras, como reformas de imóveis”, explica Beringuy.
A retomada é lenta, mas é possível ver reação no mercado informal, que é o primeiro a voltar. A taxa de informalidade foi de 38,4% no trimestre encerrado em setembro, o que equivale a 31,6 milhões de pessoas sem carteira assinada (empregados do setor privado ou trabalhadores domésticos), sem CNPJ (empregadores ou empregados por conta própria) ou trabalhadores sem remuneração. No trimestre anterior, esse percentual foi 36,9%.
Outro indicador de emprego, o Caged, medido pelo Ministério da Economia, mostra aquecimento das contratações formais. Em outubro, houve a criação de quase 400 mil vagas formais, o maior dado desde 1992. Vale ressaltar, entretanto, que Caged e Pnad tem diferenças metodológicas e, por isso, não devem ser comparados. Enquanto o Caged compila dado de trabalhadores CLT admitidos e desligados em determinado mês, a Pnad realiza pesquisa domiciliar por amostragem e também leva em consideração o setor informal.