Os números são ruins, mas poderiam ser bem piores. Com cinco meses de atraso, o Ministério da Economia divulgou, nesta quarta-feira, 27, os dados sobre empregos formais durante o mês de abril, por meio do Cadastro Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, o Caged. O Brasil perdeu 1,1 milhão de vagas formais de emprego entre março e abril deste ano, sendo que mais de 860 mil desses postos foram ceifados apenas no mês passado, diante da paralisação dos negócios pelas corretíssimas medidas de isolamento social adotadas por governadores e prefeitos para desacelerar o avanço da Covid-19.
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Clique e AssineAs políticas emergenciais foram efetivas em manter vagas, mas o grande problema é a ausência de contratações graças à pandemia. Somente em abril, quando o coronavírus começou a esgueirar-se de forma mais agressiva em território brasileiro, as contratações ficaram em 598.596 e o número de desligamentos chegou a 1.459.099, gerando um resultado de 860.503 empregos perdidos. O baixíssimo número de contratações influenciou a queda, que foi de 56,5% na comparação com abril de 2019.
Apesar de todo o auxílio do governo para evitar demissões, a rotatividade do mercado de trabalho é algo intrínseco às relações de emprego. Empresas demitem não apenas por estarem em dificuldades financeiras, mas também por estarem insatisfeitas com o trabalhador ou por não verem sentido em manter aquele posto — além, é claro, da vontade do próprio empregado em pedir as contas. As contratações funcionam sob outra lógica. Contratações surgem em momentos de crescimento das empresas existentes, para substituir empregados ou também pelo nascimento de novas companhias. Assim, quando há 1 milhão de demitidos, mas 1 milhão de admitidos, não há variação no tamanho da força de trabalho — chamado de estoque de empregos. Quando há descolamento de uma dessas duas variáveis — contratações e demissões — pode haver crescimento ou redução desse estoque. Neste momento, está claro que o problema ainda não está nos desligamentos, mas nas admissões de novos funcionários. Este é o motivo pelos postos de trabalho estarem sumindo.
As medidas emergenciais engendradas pelo Governo Federal seguiram à risca as recomendações e protegeram, segundo a pasta, 8,1 milhões de empregos no país, por meio da recomposição de salários por parte do Governo Federal e a possibilidade de corte proporcional das jornadas, ou até mesmo a suspensão dos contratos de trabalho. “O fato de as empresas não contratarem é um reflexo da queda da renda das pessoas, mesmo que haja uma futura contratação, não se sabe quando virá”, diz Ernesto Lozardo, ex-presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, o Ipea.
O auxílio emergencial a trabalhadores informais também foi primordial para a manutenção de pequenos negócios. “Os 600 reais do chamado ‘coronavoucher’ deu fôlego não só para os necessitados, mas também para os pequenos comércios, que é onde consomem estas pessoas”, explica José Pastore, presidente do Conselho de Emprego e Relações do Trabalho da Federação do Comércio de São Paulo, a Fecomercio. Os números poderiam ser muito mais aterradores sem as políticas de fomento à manutenção das pessoas empregadas.
A preocupação maior dos economistas está no futuro, quando, de fato, as demissões podem crescer. O governo ainda não estabeleceu nenhum auxílio para os meses entre julho e agosto. E pelo andar da carruagem, a economia não terá se restabelecido completamente até lá. “As medidas emergenciais vão acabar e, neste período, vamos estar, na melhor das hipóteses, reabrindo a economia de maneira irregular”, afirma Pastore. A retomada gradual, o baixo poder aquisitivo e o medo das pessoas em retomar suas rotinas fará com que os negócios, mesmo reabertos, tenham de se adaptar. A tendência é de permanência das contratações em ritmo baixo. Há a forte possibilidade também de que as demissões acelerem, aumentando o volume de postos de trabalho fechados.