A política fiscal expansionista e pró-cíclica do governo e a relutância em controlar os gastos “prejudicam severamente” a credibilidade das metas fiscais, além de contribuir para um “superaquecimento” da economia. A leitura é de Alberto Ramos, economista do Goldman Sachs, e consta em relatório em que o banco comenta o déficit fiscal do setor público de R$ 21,4 bilhões em agosto, divulgado na manhã desta segunda-feira.
Segundo o economista, uma âncora fiscal “fraca e não confiável” contribui para manter as expectativas de inflação de médio prazo desalinhadas em relação à meta de 3% e reduz significativamente o grau de liberdade do Banco Central em adotar uma posição menos restritiva.
“Esperamos que o resultado primário do setor público consolidado permaneça no vermelho em um futuro previsível e que a dinâmica da dívida bruta continue em tendência de alta nos próximos anos”, afirma Ramos, no relatório.
Ainda de acordo com o economista, substituir a dinâmica atual da dívida para uma tendência estrutural sustentável de queda e construir reservas orçamentais continuam sendo desafios macroeconômicos grandes. “Isso requer superávits fiscais estruturais acima de 2% do PIB [Produto Interno Bruto], o que contribuiria para a redução do juro real neutro”, diz o relatório. “Tal resultado é altamente improvável no curto prazo.”
O déficit do setor público registrado em agosto mostrou certo progresso em relação aos R$ 22,8 bilhões registrados no mesmo mês de 2023. No entanto, a consistente alta da dívida pública e a perspectiva de deterioração dos dados como resultado dos juros mais altos no país indicam que os próximos passos no equilíbrio fiscal são incertos.