Os Estados Unidos sentirão em 2019 os efeitos da desaceleração do crescimento em outras partes do mundo, alertou o economista-chefe do Fundo Monetário Internacional (FMI), Maurice Obstfeld, neste domingo, 9. Uma recessão na principal potência econômica do mundo, no entanto, está descartada. A expectativa para o crescimento global ainda é “estável” ou “estacionária” para o próximo ano
“Antecipamos há algum tempo que o crescimento (nos Estados Unidos) diminuirá progressivamente em 2019, em comparação com este ano”, afirmou o economista, referindo-se à perda de força dos estímulos tributário e orçamentário do governo do presidente americano, Donald Trump. “A desaceleração fora dos EUA, na medida em que estamos vendo sinais disso, parece ser mais dramática.”
Obstfeld concedeu entrevistas ao Wall Street Journal e ao Financial Times a algumas semanas de deixar o FMI. Ele será substituído em janeiro por Gita Gopinath, professora da Universidade de Harvard.
Ele destacou que a desaceleração “será muito mais acentuada em 2020 do que em 2019”, conforme os dados disponíveis. O Fundo prevê crescimento de 2,5% no Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos em 2019, resultado 0,4 ponto porcentual menor do que o projetado para este ano, porém ainda considerado “relativamente forte e em caminho lento até 2020”.
No resto do mundo, segundo Obstfeld, o “balão parece estar se esvaziando, o que acabará afetando os Estados Unidos”, alertou. O economista apontou os indicadores mais fracos do que o esperado na Ásia e na Europa no terceiro trimestre. No Japão e na Alemanha, por exemplo, o PIB encolheu. Na análise de Obstfeld, os Estados Unidos provavelmente apresentarão um crescimento mais forte, mas ele não considera que isso evite totalmente o processo de desaceleração global.
Guerra comercial
Obstfeld lamentou o ambiente de guerra comercial entre os Estados Unidos e a China, que igualmente ameaçam o crescimento global. No entanto, ele acredita não haver possibilidade de o mundo retornar a um tempo similar à Grande Depressão, “quando o comércio entrou em colapso sob a pressão de restrições unilaterais”.
“Acredito que as tensões atuais são potencialmente prejudiciais porque o investimento e a produção em escala global estão relacionados ao comércio, mas isso não deve levar a um colapso, como aconteceu nos anos 1930”, disse ele.
Para o economista, há probabilidade de, em um futuro não muito distante, a China ultrapassar os Estados Unidos como a maior economia do mundo, se ambos os países continuarem crescendo em suas taxas atuais. “É realmente importante que isso não se desenvolva de maneira conflituosa, porque será desestabilizador para toda a economia global”, alertou.
“Será importante tentar atrair a China para a estrutura global com a qual os países concordam, em que a China modifique algumas de suas práticas comerciais e também haja acomodação para algumas de suas metas econômicas legítimas”, acrescentou Obstfeld.
(Com AFP e Estadão Conteúdo)