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Pedro Guimarães: “Oito entre dez adultos recebem benefício do governo”

Presidente da Caixa fala sobre o futuro da estatal centenária: apoio a MPEs, aprimoramento da governança corporativa e o efeito da pandemia sobre a economia

Por Felipe Mendes Atualizado em 6 jul 2020, 18h21 - Publicado em 4 jul 2020, 10h00
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  • O presidente da Caixa Econômica Federal, Pedro Guimarães, de 49 anos, é um dos homens fortes do governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Doutor em Economia pela Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, e especialista em processos de desestatização – tendo assessorado a privatização do Banespa e o processo de abertura de capital do BB Seguridade –, ele tenta dar mais dinamismo à Caixa, reforçando a governança e aprimorando a tecnologia do centenário banco estatal, um dos cinco mais lucrativos do país. Com uma capilaridade invejável – são mais de 25.000 pontos de venda, 3.372 agências bancárias, 12.956 lotéricas e 84.113 funcionários –, a Caixa é a esperança de milhares de micro e pequenos empreendedores que estão sofrendo os efeitos das medidas restritivas para o funcionamento de comércio e serviços em tempos de disseminação do novo coronavírus pelo país. Para mitigar os danos e evitar falências, o banco será usado como uma válvula de escape para a liberação de crédito para esses empresários. O Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, o Pronampe, será o antídoto para amenizar essas dores. Segundo a Caixa, desde 16 de junho, mais de 16.000 empresas de micro e pequeno porte já tiveram acesso a 1 bilhão de reais pelo programa. “Chegaremos a 2 bilhões de reais emprestados na próxima semana e, neste momento, estamos analisando mais de 100.000 contratos”, disse Guimarães, em entrevista a VEJA. Na última semana, ele esteve nas cidades interioranas Catalão (GO) e Paracatu (MG), onde foi testemunha das primeiras assinaturas de liberação de crédito pelo programa.

    Muitos micro e pequenos empreendedores reclamam, desde o início de abril, que não têm conseguido acessar linhas de crédito, o que tem ocasionado em falências. Com o Pronampe, o crédito, enfim, irá chegar? Nós temos 11,6 bilhões de reais contratados entregues para as micro e pequenas empresas desde março, quando a pandemia começou aqui no Brasil. Cerca de 16.000 empresários já receberam pelo Pronampe. Temos mais de 1 bilhão de reais emprestados pelo Pronampe e chegaremos a 2 bilhões de reais já na próxima semana. Neste momento, estamos analisando mais de 100.000 contratos, com o potencial de liberarmos mais de 5 bilhões de reais — obviamente nem todas serão aprovadas. Boa parte do que já foi liberado, 70% dessas empresas, não faziam parte da nossa carteira de clientes. Eram clientes de outros bancos ou desbancarizados. A demora se deu porque só poderíamos começar a trabalhar com essa linha de crédito a partir do momento de aprovação do governo. Agora, nós temos uma garantia de 85% pelo Fundo Garantidor de Operações (FGO) que é importante para conseguirmos emprestar mais e de forma mais ágil para empresas e instituições. Além disso, já emprestamos 1,7 bilhão de reais numa outra operação que fizemos em parceria com o Sebrae para cerca de 21.000 empresas. Já em relação ao crédito para folha de pagamento, nós, realmente, emprestamos menos, pouco mais de 300 milhões de reais. Mas entendemos que esses números melhorarão agora.

    O senhor tem acompanhado de perto essas agruras dos pequenos empresários brasileiros? Sim. Eu mesmo estive em Catalão, em Goiás, em 26 de junho, onde presenciei as duas primeiras operações a serem finalizadas pelo Pronampe. Uma era para uma loja de material de construção pequena e a outra para uma hamburgueria. Um era cliente da Caixa e o outro não. Nós temos em torno de 94.000 empresas que são clientes do banco. E são mais de 100.000 empresas que nos procuraram para ter acesso ao crédito pelo Pronampe. Ou seja, muitas delas não são clientes, mas nos procuram porque estamos em mais de 5.000 municípios. É importante ter essa relação com o cliente.

    Como o banco trabalha para diminuir a fricção que existe no processo de acesso ao crédito? Nós temos melhorias operacionais. Começamos com a desenvolver métodos por onde as pessoas poderão solicitar o crédito via internet. Vamos ter o lançamento de um aplicativo, semelhante ao do auxílio emergencial. Ou seja, vamos acelerar ainda mais uma análise que hoje já é muito rápida. A expectativa que nós temos é de emprestarmos mais de 10 bilhões de reais às micro e pequenas empresas. É importante ressaltar o nosso apoio às políticas sociais. Estamos pagando 122 milhões de brasileiros. Oito entre cada 10 adultos estão recebendo o benefício do governo via Caixa.

    Olhando para os diversos segmentos de atuação, quais seriam prioritários para a atuação do banco? O foco da Caixa é habitação, um segmento que passou quase que incólume à crise. Nós financiamos fortemente esse segmento. Estamos apoiando operações de saneamento, financiando estados e municípios. Também estamos com taxas de juros competitivas no crédito imobiliário, consignado e no crédito agrícola. Ainda estamos pequenos no crédito agrícola, com uma carteira de 4 bilhões de reais. Vamos crescer isso com foco e com calma.

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    Num momento de incertezas elevadas, como estamos vivendo, não adianta conceder o crédito, mas é necessário dar um longo prazo de carência para que o tomador do empréstimo consiga pagar ao banco. Nós entendemos que a carência é importante, sim. O Pronampe já oferece oito meses, com uma taxa muito baixa. Estamos oferecendo carência de seis meses no crédito imobiliário tanto para as empresas que estão iniciando novos projetos como para os contratantes. Isso se mostrou uma estratégia acertada, que ajudou a manter 1,5 milhão de empregos no mercado imobiliário. É um mercado que, se for desaquecido, a retomada se torna muito mais complexa.

    Por falar no mercado imobiliário, como tem sido o impacto da campanha “Vem Morar”, lançada pela Caixa em parceria com a Abrainc e a CBIC? Batemos o recorde de originação de crédito imobiliário nos últimos meses. Como nós demos seis meses de carência tanto para o construtor como para quem está comprando o apartamento, o resultado disso foi um valor nunca visto antes em crédito imobiliário. Junho foi o mês recorde de crédito imobiliário SBPE, que é onde nós temos todo o controle do funding, da operação. Não só reduzimos as taxas como lançamos uma série de melhorias operacionais da Caixa para esses produtos e demos carência para clientes e empresas. O segmento habitacional foi o nosso foco para que tivéssemos o mínimo de impacto possível, até porque é um segmento que envolve a casa própria, que é o bem material mais importante de qualquer família.

    Boa parte dos clientes da Caixa tem poupança. Com a taxa básica de juros a 2,25% ao ano, o banco pretende instigar seus clientes a atuar no mercado de ações? O cliente da Caixa é um cliente que toma crédito e que é poupador. Nós não temos tanto esse cliente de perfil investidor. Esse é um caminho em relação ao que chamamos de private banking wealth management. Nós somos pequenos nesse aspecto, deveríamos crescer. Mas a forma como nós vemos isso é por meio dos IPOs (oferta inicial de ações) de subsidiárias, como o da Caixa Seguridade. Nada melhor que uma oferta de ações de um ativo da Caixa Econômica Federal para incentivarmos os nossos clientes a investirem no mercado de ações. Nós estimamos, por exemplo, que num eventual IPO da Caixa Seguridade, mais de 200.000 pessoas comprariam ações, muitos dos quais clientes da Caixa.

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    A Caixa tem aprimorado sua governança corporativa para realizar a abertura de capital de suas subsidiárias? Sempre. Antes de assumirmos, o balanço da Caixa estava com auditoria incompleta desde 2016. E foi só no segundo balanço da nossa gestão que conseguimos retirar essa ressalva. Isso é consequência da melhoria contínua de governança. É uma questão central para nós. E a própria discussão de abertura de capital é mais um passo que estamos dando para termos mais transparência e mais governança. Com o IPO, passaríamos a ter mais de 200.000 sócios minoritários analisando um balanço específico, criticando ou sugerindo questões estratégicas. Não temos a data definida ainda do IPO, mas é uma coisa está no nosso radar. Além do reforço de governança e de transparência, queremos ter mais sócios além do Tesouro Nacional.

    O ministro Paulo Guedes declarou na reunião ministerial do dia 22 de abril que “o Banco do Brasil é um caso pronto de privatização”. Numa eventual desestatização da instituição financeira, a Caixa teria condições de absorver suas funções? Isso não é uma discussão minha. O presidente da República já disse claramente que não há, nem de perto, uma discussão de privatização do Banco do Brasil, da Caixa ou da Petrobras. Essa é uma decisão do presidente e do ministro Paulo Guedes, que é o meu chefe. E eu não discuto isso.

    Tornou-se público diversos exemplos de fraudes no auxílio emergencial. A Caixa trabalha junto à Dataprev e ao Ministério da Cidadania para sanar esse problema, que pode gerar um rombo aos cofres públicos? O Ministério da Cidadania contratou a Dataprev para fazer as análises e o cruzamento dos dados, e a Caixa para fazer o cadastramento do auxílio e o pagamento. A Caixa não consegue nem saber quem pode ou não pode receber porque não tem a base de dados que vem da Receita. Para fazer as análises, a Dataprev tem que cruzar uma série de dados. O que a Caixa recebe, ela paga. Nós só podemos agir quando há qualquer tipo de fraude no recebimento. Se a pessoa se faz por outra etc. Eu não tenho, por exemplo, como saber se a pessoa recebeu 28.000 reais em 2018, porque não tenho as informações do imposto de renda. Não tenho como saber se a família recebeu três salários mínimos no último ano. Isso faz parte de uma base de dados que a Dataprev tem ou que ela tem acesso especificamente para fazer o check de cada uma das determinações da lei. Só quem pode fazer isso é quem tem essas bases todas. Nós não temos. Nós recebemos os nomes e pagamos quem eles falam para pagarmos.

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