Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Continua após publicidade

Os riscos que o governo enfrenta ao cogitar mudança nas metas fiscais

Gestão Lula tenta fugir do próprio sistema que criou para o controle das contas públicas. A estratégia é ruim e poderá retardar o crescimento econômico

Por Luana Zanobia, Pedro Gil Atualizado em 3 jun 2024, 16h52 - Publicado em 14 abr 2024, 08h00
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Em abril do ano passado, o governo Lula apresentou ao Congresso a proposta do arcabouço fiscal, que nasceu com a dura missão de substituir o teto de gastos — ambos são mecanismos de gestão do orçamento federal. Entre outros pontos, o documento fixou a meta de zerar o déficit das contas públicas em 2024 e gerar superávit de 0,5% do PIB em 2025. Na economia e na política, contudo, as promessas costumam ficar distantes da realidade. Na ocasião, analistas habituados a investigar as contas públicas disseram que o objetivo dificilmente seria cumprido. Um ano depois, está evidente que o governo não alcançará o que havia anunciado. Na segunda-feira, 8, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o cenário mudou — uma desculpa que serve para quase tudo na vida — e disse que buscará “uma meta factível” para o país. “Estamos esgotando o tempo para fazer as contas necessárias”, disse Haddad. Nas entrelinhas, foi uma confissão de culpa que expõe a dificuldade da gestão Lula para administrar bem as contas do país. “Somos muito bons em formular regras, mas não em segui-las”, diz o economista Alexandre Schwartsman. “Fazer arcabouço sem proposta para controlar o gasto não vai dar certo.”

    CRISE - Tebet: ela tentou, mas não conseguiu pôr freios nos gastos públicos
    CRISE - Tebet: ela tentou, mas não conseguiu pôr freios nos gastos públicos (Valter Campanato/Agência Brasil)

    O governo está diante de um dilema. Sem o cumprimento do resultado fiscal em 2024 e 2025, gatilhos de restrição de gastos discricionários — aqueles que não são obrigatórios — poderiam ser acionados pelas regras do arcabouço. Uma saída seria alterar as metas e fazer do arcabouço, na prática, uma letra morta, o que condenaria o país a rediscutir objetivos fiscais ano após ano. Esse parece ser o caminho para uma gestão gastadora como a petista. A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, manifesta desprezo pela responsabilidade fiscal. “Por mim, faria um déficit de 1% ou 2% do PIB”, disse ela, durante evento do partido. Nos próximos dias, o governo vai bater o martelo sobre a meta que constará no Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2025 que será apresentado ao Congresso. O texto poderá ratificar o objetivo de geração de superávit primário de 0,5% do PIB ou indicar uma “correção de rota”. Por diversas vezes, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, afirmou que a casa vai perseguir o cumprimento das metas fiscais.

    artes meta fiscal

    O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra do Planejamento, Simone Tebet, até tentaram colocar algum freio nas intenções gastadoras de seu próprio governo. Mas ambos são vozes cada vez mais isoladas. “É um jogo de gato e rato: na hora em que você afrouxa a meta, aparecem demandas, do governo e do Congresso, para usar aquele espaço”, diz o economista Marcos Mendes, pesquisador associado do Insper. “O arcabouço tende a se exaurir.” O desafio reside nas condições fiscais estipuladas desde o início do governo, segundo as quais o aumento dos gastos exige ajustes subsequentes nas receitas. Embora tenham sido tomadas medidas nessa direção — alguns resultados positivos na arrecadação, de fato, vieram —, não está claro se a melhora é permanente ou se será suficiente para cobrir despesas mais infladas.

    Continua após a publicidade
    COMPRAS - Risco: desequilíbrio fiscal poderá aumentar a inflação
    COMPRAS - Risco: desequilíbrio fiscal poderá aumentar a inflação (Dalibor Despotovic/MOMENT/Getty Images)

    Por ora, o governo criou uma série de receitas não recorrentes, como a taxação de fundos exclusivos dos ricos e de casas de apostas, e a volta do voto de qualidade pró-União nos julgamentos do Conselho de Administração de Recursos Fiscais. Ainda assim, é apenas um devaneio a realização de um superávit de 0,5% do PIB no próximo ano. As projeções indicam um déficit de 0,5% do PIB em 2025, o que torna cada vez mais provável um ajuste da meta. A mudança para um superávit de 0,25% do PIB, cogitada por Haddad, também é considerada desafiadora. “É provável que uma alteração mais modesta, como saldo zero ou déficit, seja mais realista”, diz Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria.

    PREOCUPAÇÃO - Pacheco: ele diz que perseguirá o cumprimento da meta
    PREOCUPAÇÃO - Pacheco: ele diz que perseguirá o cumprimento da meta (Evaristo Sá/AFP)
    Continua após a publicidade

    A boa prática macroeconômica prega que mudar objetivos é ruim. Alterar a meta significaria perder credibilidade, poderia afastar investimentos e, afinal, prejudicar o crescimento econômico. Em 2024, considerando o cenário atual, é improvável que o governo cumpra a meta de resultado zero, mas é preciso tentar. A equipe econômica está apertando a arrecadação, implementando medidas como o projeto de lei que ressuscita o DPVAT, seguro de veículos que levaria 15 bilhões de reais para os cofres públicos, e analisa outras iniciativas arrecadatórias, como o aumento da distribuição de dividendos da Petrobras, algo que uma ala influente do governo rejeita.

    artes meta fiscal

    A demora em tomar medidas de contenção do gasto poderá resultar em pressões políticas adicionais, que se intensificam em anos de eleição. Há também o risco de sanções fiscais, caso o governo não atinja a meta estabelecida, o que exigiria reduções drásticas nas despesas do ano seguinte. Esse processo traria de volta o risco da inflação e interromperia o ciclo de corte de juros. “O cenário fiscal não está sob controle, e a dívida vai continuar subindo”, diz Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados. “Ou seja, a Selic não vai conseguir sair muito da casa dos dois dígitos.”

    Continua após a publicidade

    artes meta fiscal

    Em política fiscal, o que importa é a trajetória. Em 2022, na gestão do ex-­ministro Paulo Guedes, as contas do governo federal registraram superávit primário de 54 bilhões de reais após oito anos no vermelho. Nem por isso o resultado foi comemorado como uma final de Copa do Mundo. Nas planilhas, foi uma vitória. Na prática, nem tanto. O resultado foi conquistado às custas do não pagamento de precatórios, aqueles que o governo deve necessariamente honrar após condenações na Justiça. Essa bomba bilionária foi jogada para frente. O governo Lula, acertadamente, antecipou os pagamentos, mas, mesmo sem esse passivo gigantesco, o déficit de 2023, que foi de 2,1% do PIB, seria próximo de 1,5%. Apesar da maquiagem, é fato que as contas públicas pioraram na gestão petista. Para ter ideia, em um ano a relação dívida/PIB pode ir de 74,3% para 77,3%. Enquanto o governo não conduzir a economia do país com austeridade, o cenário não deverá melhorar.

    Publicado em VEJA de 12 de abril de 2024, edição nº 2888

    Publicidade

    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Semana Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    Apenas 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

    a partir de 35,60/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.