A chegada da pandemia de Covid-19 ao Brasil foi marcada por uma corrida insólita aos supermercados e farmácias. Clientes temerosos buscavam itens básicos e sanitários para a sobrevivência em tempos de quarentena forçada. Entre os produtos mais procurados estavam as máscaras para proteção contra a doença. Procurada pela Santa Casa de Araraquara, no interior de São Paulo, para suprir a demanda urgente do produto no hospital, a fabricante têxtil Lupo resolveu se engajar na causa e começou pouco a pouco a produzir o item em larga escala. Com uma estética mais atraente em relação à linha de produtos descartáveis, as máscaras da empresa ganharam as gôndolas do varejo. Em 2021, foram 111 milhões de máscaras vendidas. E com um novo aumento de casos, devem volta a cena. Em São Paulo, o Comitê de Saúde de voltou a recomendar o uso de máscaras em locais fechados, sem pedir a obrigatoriedade.
Apesar do sucesso dos produtos e de uma nova oportunidade de vendas, a CEO e herdeira da companhia centenária, Liliana Aufiero, diz que nunca viu as máscaras como uma oportunidade para alavancar os negócios da Lupo, uma vez que elas nunca fizeram parte da atividade principal da empresa. A criação do produto próprio foi, a princípio, uma iniciativa para socorrer os hospitais diante dos gargalos na oferta do item no mercado. “Na época do lockdown, nós abrimos a loja de uma franqueada para retirar o tecido que precisávamos para produzir as máscaras para hospitais e asilos. Levamos um pequeno pedaço de TNT para a nossa equipe de criação e depois enviamos um primeiro lote de máscaras para a Santa Casa testar”, afirma Aufiero. “Durante um mês e meio, o que produzimos foi para atender a demanda dos hospitais.”
Aufiero conta que no auge da disseminação do vírus no país, no primeiro semestre de 2021, a Lupo chegou a fabricar 300.000 máscaras por dia. Porém, a reabertura do comércio varejista fez com que a empresa voltasse a priorizar outros produtos como cuecas e lingeries. “Desde o segundo semestre de 2021, a nossa produção diária de máscaras reduziu drasticamente porque voltou a necessidade de fabricarmos as outras peças e as máquinas para confeccionar eram as mesmas. Então, tivemos de fazer a ‘divisão dos pães’”, conta ela. Mas o produto ajudou a empresa a passar pela pandemia sem maiores dificuldades. Em 2021, a Lupo faturou 1,3 bilhão de reais, alta de 81% em relação a 2020 e de 49% frente a 2019, ano anterior ao vírus.
Para o futuro, a Lupo quer crescer a fatia de vendas de sua vertente Lupo Sport, centrada em roupas e acessórios esportivos. Hoje, esse percentual é de 10% dentro da composição do faturamento da empresa – meias lideram essa lista, com 22%, à frente de cuecas (21%), lingeries (19%) e máscaras (19%). “Nós vamos investir muito em Lupo Sport e esse percentual vai mudar. Compramos 155 máquinas para trabalharmos com essa categoria”, revela Aufiero.
Além de visar o crescimento em produtos usados para a prática de exercícios físicos, a companhia também pretende evoluir a sua linha de pijamas. Hoje, são vendidos 415 modelos diferentes de pijamas de marca própria. Para auxiliar esse crescimento, tanto na linha esportiva como em pijamas, a Lupo adquiriu uma unidade fabril em Pacatuba, no Ceará, que pertencia à Marisol. “De cara, nós investimos 140 milhões de reais lá”, revela. “A nossa meta é ter até o fim do ano 1.000 funcionários e fazer a principal parte de corte e costura lá, enquanto a parte de tecelagem ficará na nossa fábrica em Araraquara.”
A Lupo foi uma entre dezenas de empresas que abdicaram de abrir o capital em 2021. Aufiero disse que a empresa não desistiu da oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês), mas que não deve retomar esse plano tão logo. “No começo de 2021, a bolsa estava bem movimentada. Mas, as janelas se fecharam. O nosso intuito é fazer o IPO, mas não temos uma decisão tomada em relação à data. Em ano eleitoral isso não vai acontecer”, diz ela. “Estamos investindo na empresa com o nosso capital de giro. Não mudamos uma vírgula do nosso plano de expansão”, completa. Antes de iniciar as tratativas para o IPO, a Lupo afirmara que queria chegar a 2024 com um faturamento de 3 bilhões de reais.