Derrotado em 1989, 1994 e 1998, o candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, recalculou a rota para sair vitorioso nas eleições de 2002. Com a Carta ao Povo Brasileiro, ele se comprometia com o mercado e a sociedade em manter as boas diretrizes econômicas de Fernando Henrique Cardoso. Trajado em bons ternos e de barba aparada, Lula sagrou-se vencedor do pleito. Mas não sem uma conversa, no mínimo, curiosa com seu então assessor econômico, Antonio Palocci. Durante a campanha, Lula brincou com Palocci sobre as diretrizes da campanha. “Você acha que seu programa de direita vai fazer a gente ganhar a eleição?”, disse, rindo, o então candidato. “Você perdeu três com programa de esquerda”, respondeu, também em tom de brincadeira, Palocci. Porém a lição da época pode ser um dos caminhos do petista e pré-candidato para a Presidência vinte anos depois.
A história se repete. Na ocasião, o economista Guido Mantega era o escolhido para ser ministro da Fazenda de Lula. Graças à penetração de Palocci junto a entes do mercado, o segundo ganhou o posto durante os governos do petista. Aliados de Lula garantem que, agora, o ex-presidente deve repetir a fórmula — mas sem pressa. “Ele não quer consolidar uma coordenação econômica durante a campanha. Ele tem na cabeça nomear um ministro político. Não quer economista para causar polêmica”, explica um auxiliar. “Vai depender da situação que estiver nas pesquisas, se for mais apertado ou menos apertado — vai pra decisão mais ou menos conservadora. Ele acha que eleição é coisa pra político, não gosta de economista no meio da campanha”, diz esse assessor.
Por isso, Lula tenta se mover provocando dúvidas na cabeça dos eleitores. Ele tem evitado aparecer publicamente junto a pleiteantes do cargo de ministro da Fazenda, como o próprio ex-ministro Guido Mantega e os economistas Gabriel Galípolo e Guilherme Mello, enquanto os economistas se movimentam nos bastidores para vender uma possível gestão futura ao ex-presidente. Lula tem preferido aparecer em encontros com empresários e economistas ao lado do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad, pré-candidato ao governo do estado. Assessores garantem que essa é uma estratégia para despistar sobre a escolha de nomes para a Fazenda, já que Haddad estaria “totalmente focado” nas eleições paulistas.