Um dos principais gestores de fundos do país, Luis Stuhlberger, está pessimista com a economia brasileira. Em carta a cotistas, com divulgação nos últimos dias, ele mostrou-se especialmente preocupado com o desempenho da bolsa de valores do país, além de alertar para a alta alavancagem no mercado em um momento de restrição na tomada de crédito.
“A bolsa continua vítima da soma de todos os medos: não consegue precificar o juro futuro (menor) dada o CDI corrente de 13,75%; a alavancagem das companhias preocupa, num ambiente de constrição de crédito cada vez mais evidente; o aumento de impostos, potencialmente substancial em alguns casos, veio no bojo das discussões do novo arcabouço”, escreve o gestor em carta aos cotistas. “O fundo reduziu marginalmente exposição na bolsa brasileira, e tem exposição líquida neutra em bolsa global.”
Diante da declaração de Stuhlberger, VEJA fez um levantamento a partir de dados da plataforma TC Economatica para identificar quais são as empresas de capital aberto mais alavancadas no país. Em relação à dívida no curto prazo, a Petrobras, em termos nominais, tem o valor mais alto: 47,6 bilhões de reais. A Marfrig aparece em segundo lugar: 13,6 bilhões de reais em dívidas com vencimento de até 12 meses. São seguidas por Raízen (11,3 bilhões de reais), Carrefour Brasil (11,2 bilhões de reais) e Equatorial Energia, com 10,8 bilhões de reais em dívidas de curto prazo. Dessas, a situação do Carrefour Brasil é a que mais chama atenção, já que 59% de sua alavancagem está vinculada aos próximos meses.
Em relação à dívida líquida total, a Petrobras também aparece como a empresa com maior endividamento na bolsa de valores brasileira: 224,5 bilhões de reais. A segunda colocada, nesse quesito, é a JBS, alavancada em 92,3 bilhões de reais, mas que tem apenas 9% de sua dívida atrelada ao curto prazo. A Suzano Holding, dona da subsidiária fabricante de papel e celulose, a Suzano, apresenta uma dívida líquida total de 57,5 bilhões de reais. Marfrig, com endividamento de 42,3 bilhões de reais, Vale (41,3 bilhões de reais), Cosan (43,2 bilhões de reais), Raízen (39,2 bilhões de reais), Neoenergia (36,6 bilhões de reais), Eletrobras (33,8 bilhões de reais) e Equatorial Energia (33,3 bilhões de reais) completam o ‘top 10’ nesse quesito.
A preocupação de Stuhlberger faz sentido. Desde o segundo semestre do ano passado, diversas empresas procuram consultorias financeiras e escritórios de advocacia especializados em reestruturação para renegociar suas dívidas com credores, motivadas pelo cenário de alta dos juros e dólar acima dos 5 reais. Acontece que nem sempre essa renegociação é possível, já que os bancos, nesses casos, costumam ter maior poder de decisão. Um caso que exemplifica isso é o da Cervejaria Petrópolis, que, com mais de 4 bilhões de reais em dívidas, tem como maior credor o Santander. Ao tentar renegociar sua dívida de curto prazo com o banco, o Santander teria dito, segundo fontes, que só aceitaria negociar o bojo de dívidas completo (são mais de 200 milhões de reais). Diante dos entraves nas tratativas, o grupo cervejeiro decidiu solicitar sua recuperação judicial.