Mais longevo primeiro-ministro do Japão, Shinzo Abe, assassinado nesta sexta-feira, 8, deixará ao país um legado econômico muito maior do que a conhecida imagem dele vestido como Super Mario Bros para promover a Olimpíada de Tóquio. Não só pelo tempo que permaneceu no cargo, mas principalmente pela influência que seu pensamento econômico possui no país. O atual primeiro-ministro, Fumio Kishida, foi ministro das relações exteriores durante a gestão de Abe e, ao assumir o comando do governo, nomeou diversos apoiadores leais ao antigo chefe para o seu gabinete. Também prometeu uma política de generosos gastos públicos para estimular a economia.
Tudo isso para dar continuidade às ideias de Abe para a economia. Durante as últimas três décadas, o grande problema econômico do Japão tem sido uma convivência perigosa com a estagnação e a deflação. Com uma população envelhecida e altos níveis de poupança, a economia nipônica sofre para encontrar crescimento, devido ao baixo nível de consumo e à grande dificuldade para cumprir metas de inflação. No caso, lá, diferentemente do Brasil, a dificuldade é para subir a inflação, não para baixar.
A proposta de Abe para enfrentar esses obstáculos, pelos quase 3.200 dias que permaneceu no poder entre as duas últimas décadas, era uma receita que ficou conhecida como Abenomics (o que poderia ser traduzido como Abeconomia). Ela era baseada em três pilares, afrouxamento monetário pelo Banco do Japão (com a compra de títulos, como fez o Ocidente nas crises financeiras de 2009 e da Covid-19), estímulo fiscal com gastos do governo e reformas estruturais. Os dois primeiros foram bem-sucedidos.
Por um lado, o país se aproximou da meta de inflação de 2% ao ano — o que agora com a crise inflacionária global, tornou-se relativamente simples. De outro, falhou em tornar o Japão um top 3, dentre as nações integrantes da OCDE, no ranking “Fazendo Negócios”, do Banco Mundial. Em vez de subir, a nação caiu nessa lista, e acabou abandonando esse objetivo. Nas poucas áreas que avançou, o país melhorou suas condições de governança corporativa e de empregabilidade das mulheres. Cabe a Kishida seguir seu legado.