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O direito universal à saúde não é o de tratamento a qualquer custo

Para evoluir, os planos de saúde precisam de margem para investir

Por Gustavo Ribeiro
30 ago 2024, 06h00

A regra mais trivial das finanças diz que não se deve gastar mais do que se tem. Empresas cujas receitas ficam aquém das despesas de forma recorrente se inviabilizam a médio prazo. O prejuízo continuado é insustentável. Essa é a questão a ser enfrentada pelo setor de saúde suplementar.

No Brasil, confunde-se o direito universal à saúde com o direito a tratamento a qualquer custo. Por essa narrativa, o lucro das operadoras entra como mais um componente do embate leviano que se construiu, com a criação de um antagonismo fictício entre a sociedade e os planos de saúde. Ora, é preciso trazer racionalidade ao debate. Prestemos atenção aos números. Das informações financeiras, tira-se que, nos últimos três anos, o setor registrou prejuízo operacional de 17,5 bilhões de reais. Somente em 2023, o déficit foi de 5,9 bilhões. O número de empresas no negativo subiu de 31,4% em 2019 para 55,6% do setor em 2023.

Este ano começou com um suspiro. Pela primeira vez desde 2021, as operadoras fecharam o primeiro trimestre com resultado operacional positivo de 1,9 bilhão de reais. Um trimestre, em dez. E tal resultado não é grande alento. As empresas apenas voltaram a um patamar próximo ao dos anos pré-covid-19. É importante pontuar que, mesmo com esse lucro, a margem operacional foi de 2,5%, ou seja, menos do que rende qualquer aplicação financeira.

Entre tantos problemas que déficits em sequência trazem, aponto três. O primeiro é o impacto na viabilidade de existência de pequenas operadoras e na consequente capacidade das grandes em atender beneficiários nos rincões do Brasil. Em segundo, há o comprometimento da capacidade de investimento. Por fim, o beneficiário é prejudicado. Não só pela ameaça de defasagem tecnológica, como também pela elevação dos preços dos planos.

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“Três das maiores seguradoras do mundo desistiram do Brasil”

As causas dessa disfuncionalidade são profundas e apontam para uma distorção do liberalismo, tal como concebido por Adam Smith. A exaltação da livre iniciativa convive, na prática, com a manipulação de informações, vício potencializado por um debate calcado em emoções, não em racionalidade. O problema é tão complexo que, nos últimos três anos, três das maiores seguradoras do mundo que atuavam no Brasil desistiram. A japonesa Sompo, a alemã Allianz e a americana UnitedHealth.

Há muitos desafios a ser enfrentados. A busca de soluções, no entanto, passa pelo entendimento de suas mecânicas a bem da coletividade. Não é na visão unitária que se avalia e se julga setor tão importante. A romântica ilusão de artificializar as relações contratuais eternizando-as, inclusive em afronta ao ordenamento jurídico brasileiro, não é uma proposta crível, como alguns não conhecedores do sistema equivocadamente defendem. A missão do setor é prestar atendimento de qualidade aos seus beneficiários. Para isso é preciso identificar os problemas reais e tratá-los à luz da razão.

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Gustavo Ribeiro é presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde (Abramge)

Os textos dos colunistas não refletem necessariamente as opiniões de VEJA NEGÓCIOS

Publicado em VEJA, agosto de 2024, edição VEJA Negócios nº 5

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