Compreender os novos tempos é fundamental para entender as mudanças educacionais necessárias para fomentar a economia do amanhã. Cada organização social abre espaço para uma evolução na educação e na economia. A primeira estrutura social organizou-se sob a ótica da natureza (cosmos), entre os séculos VI e IV a.C., quando nós, humanos, nos subjugamos ao mundo natural para moldar nossas relações. Se, por um lado, não havia preparação para o trabalho e se aprendiam as coisas fazendo, por outro, na Grécia Antiga, quem não estava preso pela atividade escrava era preparado, além da escrita e da aritmética, em uma formação humanista que dava capacidade de refletir sobre os desafios de uma sociedade.
Depois, a conversão de Constantino, então imperador de Roma, ao cristianismo marca a mudança para a segunda estrutura dos laços sociais, organizada sob a transcendência do divino (séculos IV a XVIII). No século XI, surgem as universidades, marcando a superação da Igreja como mantenedora do conhecimento. O saber deixou de ser visto como um dom ou uma graça divina. A universidade nasce como um local gradativamente laico, criado para estudo e formação de pessoas. As primeiras — Bolonha (1088), Oxford (1096), Paris (1150) e Cambridge (1209) — abrem caminho para o Iluminismo.
“Na nova era, vivemos um tempo em construção, repleto de dúvidas”
O terremoto de Lisboa (1755) marcou a entrada de um novo tempo — o mundo moderno —, em que o laço social passou a girar sob a ótica da racionalidade, sendo o humanismo o fator social de destaque. Isso significa que a ciência abriu uma nova perspectiva para a discussão de mundo e de sociedade. Esse tempo leva a uma revolução social, econômica e política. No campo econômico, a Revolução Industrial trouxe a transformação da educação formal para o trabalho, o nascimento da administração. A preocupação com a gestão e a eficiência promove não só o avanço das faculdades de administração, como também o surgimento das escolas de negócios, uma sofisticação na preparação para o trabalho.
Desde o surgimento da internet, na década de 1990, o mundo moderno deu lugar ao pós-moderno, um novo tempo ainda em construção, repleto de dúvidas, em que os acrônimos Vuca (volátil, incerto, complexo e ambíguo, na sigla em inglês) e Bani (frágil, ansioso, não linear e incompreensível, também em inglês) tentam didaticamente nos explicar a complexidade. Como resposta ao contexto pós-moderno, a educação reforça o conceito de aprendizagem ao longo da vida e de recapacitação. É fácil concordar com o psiquiatra Jorge Forbes, que afirma: “Estamos vivendo a maior transformação dos laços sociais dos últimos 2 600 anos”. No entanto, está difícil compreender que, na pós-modernidade, o aprendizado se torna fundamental para quem quiser ser relevante no mercado de trabalho. O desafio é transformar as possibilidades de aprendizagem em conhecimento de verdade.
José Cláudio Securato é presidente da Saint Paul Escola de Negócios e doutor em administração pela FEA-USP
Publicado em VEJA, julho de 2024, edição VEJA Negócios nº 4