Último Mês: Veja por apenas 4,00/mês
Continua após publicidade

O acordo de Guedes e Alcolumbre para conter os gastos públicos

O presidente do Senado se comprometeu a rever o PLC 149, que rege a ajuda a estados e municípios durante o enfrentamento à pandemia

Por Victor Irajá Atualizado em 4 jun 2024, 14h47 - Publicado em 28 abr 2020, 15h32
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Vendo seu projeto sob ataque de áreas desenvolvimentistas do governo, Paulo Guedes reagiu. Em reunião com o secretariado na quinta-feira 23, o ministro dissertou sobre a decepção com seu ex-secretário de Previdência, Rogério Marinho, elevado a ministro do Desenvolvimento Regional com a bênção dele. Segundo a avaliação de Guedes, Marinho tornou-se o vendedor do “terreno na lua” que fez brilharem os olhos de Jair Bolsonaro: injetar recursos públicos em obras de infraestrutura para aquecer a economia depois de passado o pior momento da crise do novo coronavírus. Defensor da saída por meio da iniciativa privada, Guedes prometeu ao secretariado que não esmoreceria e iria para a guerra. “Guedes não tem queixo de vidro e vai brigar”, diz um alto executivo do Ministério da Economia. E a promessa, de fato, não ficou no campo das ideias. Nesta semana, o ministro começou a fazer política. Guedes reuniu-se com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), por duas vezes para alinhar a pauta econômica a ser tocada na Casa. A articulação deu certo e Guedes conseguiu ganhar uma primeira batalha. Guedes costurou junto a Alcolumbre a criação de mecanismos de contenção de aumento dos gastos público para que o Senado aprove o pacote de auxílio de 86,9 bilhões de reais a estados e municípios. A VEJA, auxiliares do presidente do Senado afirmaram que sua intenção é votar o texto no máximo até quinta-feira, 30.

    O Projeto de Lei Complementar n° 149, que foi aprovado na Câmara será alterado no Senado. Um dos artigos negociados pelo ministro e por Alcolumbre envolvem a proibição de que governadores façam mau uso do dinheiro da União, como dar aumento a servidores ou benefícios fiscais a empresas, e destinem o montante ao combate ao coronavírus, mesmo que na área econômica — as obrigações com os sistemas de saúde são um dos maiores desafios de alguns entes federativos. Caso a proposta de Guedes vingue, o texto voltará para apreciação da Câmara e atrasará mais um pouco a liberação dos recursos. O projeto, vale dizer, não era do feitio da equipe econômica, que apresentou como contrapartida um projeto de envio direto de 40 bilhões de reais às contas estaduais e municipais visto, como aborda VEJA em reportagem publicada nesta segunda-feira 27, como inviável para a manutenção das políticas públicas. Apesar de sempre se sentir desconfortável ao fazer articulações políticas, o chefe da Economia entende o tamanho do desafio e coloca sua reputação à prova. Guedes percebeu que, no Senado, as negociações são mais embasadas e técnicas do que no campo de barganhas travado na Câmara. Ali, encontrou um cenário mais propício para externar suas preocupações.

    O ministro também defendia a criação de um novo artigo no texto, que define o corte temporário de 30% dos salários de servidores públicos com salários superiores a 10 mil reais, com a consequente redução das jornadas. Pressionado pelo próprio presidente Jair Bolsonaro, que vê no funcionalismo público uma força eleitoral significativa e articulada, o ministro foi convencido por Alcolumbre a encontrar um meio-termo. A saída foi incluir no PLC 149 a proibição da concessão de aumentos ao funcionalismo federal, estadual e municipal até o fim de 2021. A equipe do ministro calcula que, com a medida, o país economize mais de 120 bilhões de reais no período. Dois grandes pontos de interrogação vêm agora: 1) O Senado aprovará as alterações sugeridas por Guedes? 2) Caso sejam aprovadas, elas resistirão à reavaliação da Câmara, onde Guedes sofreu uma derrota acachapante? Neste momento, as chances de Guedes sobreviver no plenário são boas, mas nada está garantido, e o ambiente na Câmara não é muito propício. Se conseguir reverter a situação, será uma vitória inquestionável.

    Continua após a publicidade

    A articulação de Guedes tem uma preocupação principal: afastar o risco de ruptura com um programa de redução do tamanho do Estado e da implementação de reformas liberalizantes. O temor do ministro não é por acaso. Após a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, o fim do programa liberal é visto como um próximo passo natural à medida em que Bolsonaro se aproxima dos partidos que configuram o Centrão — partidos forjados no toma lá, dá cá que permeia a cultura política brasileira. Junto ao ministro da Casa Civil, o general Walter Braga Netto, a articulação deste redesenho nos rumos da política econômica do país passa por Rogério Marinho e pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas. Para mitigar a influência de figuras como os ex-deputados Roberto Jefferson e Valdemar da Costa Neto e o projeto de expansão dos gastos, o ministro foi enfático. Em reunião com o presidente Bolsonaro nesta segunda-feira 27, ele externou a preocupação com seu projeto e a necessidade de se aprovar reformas estruturantes, em detrimento ao projeto de Marinho, para criar fôlego fiscal ao país e um ambiente favorável para a atração de investimento estrangeiro. Não por acaso, o presidente fez um afago público ao ministro depois da reunião. “O homem que decide a economia no Brasil é um só, chama-se Paulo Guedes. Ele nos dá o norte, nos dá recomendações e o que nós realmente devemos seguir”. Que não seja da boca para fora. 

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Veja e Vote.

    A síntese sempre atualizada de tudo que acontece nas Eleições 2024.

    OFERTA
    VEJA E VOTE

    Digital Veja e Vote
    Digital Veja e Vote

    Acesso ilimitado aos sites, apps, edições digitais e acervos de todas as marcas Abril

    1 Mês por 4,00

    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (equivalente a 12,50 por revista)

    a partir de 49,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$118,80, equivalente a 9,90/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.