Bill Gates, o gênio por trás da Microsoft, virou bilionário aos 31 anos. Larry Page, cofundador do Google, entrou para o clube do bilhão aos 30. À frente deles, paira o recordista Mark Zuckerberg, o inventor do Facebook, que viu sua conta bancária alcançar a marca com apenas 23 anos. O Brasil tem notório representante na lista, o discreto paulistano Eduardo Saverin, parceiro de Zuckerberg na criação da rede social, que ingressou aos 25 no time dos ultrarricos. Mas ser bilionário antes dos 30 é algo raro, que quase sempre torna esses privilegiados figuras lendárias no mundo corporativo. Isso por si só seria suficiente para chamar a atenção para Henrique Dubugras e Pedro Franceschi, dois jovens nascidos respectivamente em São Paulo e no Rio de Janeiro que estrearam no ranking dos bilionários da revista americana Forbes em 2022, aos 26 e 25 anos, com fortuna estimada para cada um em 1,5 bilhão de dólares. Esse, contudo, não é o único feito da dupla. A fintech criada por eles, a Brex, é agora uma das sensações do Vale do Silício, a capital mundial das empresas de tecnologia.
Poucas companhias criadas por brasileiros fizeram sucesso tão veloz nos Estados Unidos quanto a Brex, que fornece cartões de crédito corporativos e softwares de gestão de despesas, além de atuar como uma espécie de banco para startups. Fundada em 2017, tornou-se um unicórnio, como são chamadas as empresas avaliadas em pelo menos 1 bilhão de dólares, apenas seis meses depois de seu lançamento. Seu modelo de negócio, centrado em um software avançado de gerenciamento de despesas que ajusta os limites de crédito com base nos saldos de caixa e receita, capturou clientes sedentos por inovação, e a Brex passou a ser referência em serviços financeiros no Vale do Silício.
Tanto é assim que foi eleita pelo canal de televisão CNBC a segunda empresa mais disruptiva dos Estados Unidos, atrás apenas da OpenAI, a inventora da inteligência artificial ChatGPT. Mais recentemente, a Brex recebeu da revista americana Time o título de uma das 100 companhias mais influentes do país. “Uma boa maneira de pensar a Brex é que somos uma mistura de fintech com empresa de software”, disse Dubugras, que ocupa o cargo de CEO da empresa, em entrevista para a publicação.
A trajetória de Dubugras e Franceschi é marcada pelo talento precoce. Dubugras tinha 14 anos quando criou sua primeira companhia, uma desenvolvedora de videogames que fechou depois de receber avisos por violação de patente. Franceschi se tornou, aos 12 anos, a primeira pessoa do mundo a desbloquear o iPhone 3G. Aos 15, ensinou a Siri, o comando de voz da Apple, a falar português. Os rapazes se conheceram em um fórum no Twitter sobre criação de softwares e nasceu daí a ideia de se tornarem sócios. Ainda menores de idade, fundaram a Pagar.me, uma empresa de meios de pagamento on-line que atraiu de largada 1 milhão de reais de um grupo de investidores. Em 2016, a Stone, já consolidada na indústria financeira, comprou a startup da dupla, que decidiu tentar a sorte nos Estados Unidos.
Ambos ingressaram no curso de ciência de computação da Universidade Stanford, na Califórnia, mas largaram as aulas para fundar a Brex. Agora, comandam um negócio avaliado em 12 bilhões de dólares. “Jovens empreendedores escolhem o exterior porque encontram ecossistemas que valorizam a inovação”, diz Felipe Matos, vice-presidente da Associação Brasileira de Startups. Avessos a entrevistas, Dubugras e Franceschi seguem a discrição que caracteriza muitos bilionários. Uma exceção foi o casamento recente de Dubugras, que fechou parte de Fernando de Noronha para sua festa de casamento orçada em 10 milhões de reais. Um troco para quem está no seleto clube do bilhão.
Publicado em VEJA de 24 de novembro de 2023, edição nº 2869