Se o ano de 2020 foi cruel para quem precisou converter o real para a moeda americana, 2021 já começou dando sinais de que a pressão sobre a moeda brasileira não dará trégua tão facilmente. No primeiro pregão do ano, o dólar comercial encerrou em alta de 1,53%, a 5,2687 reais, enquanto o DXY, o índice que mede a força do dólar em relação a uma cesta de moedas, principalmente o euro, fechou praticamente no zero a zero, a -0,03%. Isso mostra uma continuidade da desvalorização do real em relação ao dólar mesmo em um momento em que a moeda americana se desvaloriza ou se mantém estável em relação a outras moedas mundiais.
O Brasil vem sentindo a alta do dólar de forma mais aguda que o restante dos países emergentes. Enquanto o real se desvalorizou 1,51% em relação ao dólar nessa segunda-feira, 4, o peso chileno se valorizou 1,12% e o rand, da África do Sul, se desvalorizou 0,39%. Até mesmo a lira turca se desvalorizou menos em relação ao dólar que o real, e se manteve praticamente estável, com queda de 0,18%. Esse fenômeno se explica pelo alto risco fiscal do Brasil. No início de 2020, antes da pandemia do coronavírus, o Brasil vinha em um ciclo de recuperação do seu déficit público, mas que foi interrompido pela Covid-19. Com isso, a dívida do país cresceu, novamente afugentando os investidores internacionais, que preferem investir em países mais seguros. Dessa forma, a quantidade de dólar no país cai e, consequentemente, o seu preço sobe.
Para esse cenário mudar, as reformas estruturantes e as privatizações, capazes de diminuir a dívida pública do país, devem avançar, mas os analistas não acreditam que isso acontecerá rapidamente dentro do atual contexto político do país. Além disso, pesa a politização da vacina e as dúvidas sobre como se dará a imunização da população. Se for lenta, ela demandará mais gastos públicos para remediar a crise decorrente da Covid-19. Por isso, a projeção do mercado é que o dólar pode até cair um pouco até o final do ano, mas ainda permanecerá em altos patamares em 2021.
A Guide Investimentos, por exemplo, estima que a moeda deve encerrar o ano acima de 5 reais, em linha com o boletim Focus de 31 de dezembro, divulgado nesta segunda-feira. “A inércia dentro do Congresso para efetivamente aprovar as reformas mantém a taxa de câmbio pressionada junto com a manutenção de juros historicamente baixos”, diz Alejandro Ortiz, economista da Guide Investimentos. A XP Investimentos, por sua vez, se diz otimista com o real “à medida que esperamos maiores preços de commodities, maior crescimento e um menor diferencial de rendimento”, mas esse otimismo significa um dólar a 4,95 reais, ou seja, ainda muito distante dos 4,05 reais do final de 2019, dos 3,88 reais do encerramento de 2018 e dos 3,31 reais do final de 2017. Ou seja, se as coisas caminharem na mesma toada, nem com vacina destinos como Disney, Miami e Nova York voltarão tão cedo a ser acessíveis para parte dos brasileiros.