Apesar do patamar recorde de 80.000 pontos, as empresas brasileiras na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) são vistas como “baratas” pelos investidores estrangeiros, o que tem atraído dinheiro para o Brasil. Isso porque o valor do Ibovespa está abaixo dos níveis históricos, se for considerado o dólar e a inflação.
A pontuação da bolsa representa um valor em reais de uma carteira teórica de ações negociadas na instituição. A composição varia conforme critérios estabelecidos pela B3, e empresas maiores – como Petrobras, Ambev e os bancos Itaú e Bradesco – têm mais peso.
Ocorre que os investidores estrangeiros levam em conta o valor em dólar para fazer seus cálculos. Nesse tipo de comparação, o Ibovespa estaria hoje em cerca de 24.800 pontos. O recorde na moeda americana é de 44.616 pontos, segundo cálculo da Economatica, atingido no dia 18 de maio de 2008 – antes da crise mundial.
O cenário internacional, apesar de positivo por causa do crescimento mundial, é de juros baixos, o que torna o país mais atrativo em termos de retorno. As quedas recentes na Selic – que está em 7%, o menor patamar da história – deve dar fôlego na dívida das empresas nacionais, o que as tornam mais atraentes. E a economia dá sinais de recuperação contínua, apesar de turbulências políticas e da situação ruim nas contas públicas, que motivou rebaixamento da nota de crédito do país na última semana.
“Os investidores estrangeiros estão procurando onde aplicar seu dinheiro. Quando olham para o bolsa do Brasil, acham que está ‘barata’”, explica o estrategista-chefe da corretora XP Investimentos, Celson Plácido. Até o dia 11, já ingressaram na bolsa quase 3,6 bilhões de reais em recursos de investidores de outros países (o texto continua após o gráfico).
Inflação
O valor global das empresas na B3 encerrou o pregão da última segunda-feira em 3,13 trilhões de reais (987,7 bilhões de dólares). Para se ter uma ideia do quanto isso representa em termos globais, o valor de mercado da Apple, a companhia mais valiosa negociada em bolsas americanas, é de 902 bilhões de dólares (2,9 bilhões de reais).
Mesmo com o valor expresso em moeda ser também o maior da história, se for levada em conta a inflação, ainda há bastante distância para o topo já alcançado e, portanto, espaço para crescer. O patamar corrigido atingido nesta terça é o mesmo verificado em 2014. E o recorde foi atingido no dia 31 de outubro de 2007, quando as empresas valiam 4,01 trilhões de reais, segundo cálculo da Economatica usando o índice IGP-DI.
A comparação busca igualar os valores atuais em relação aos anteriores, segundo a variação dos preços. “Provavelmente, hoje em dia, você esteja ganhando o melhor salário da sua vida inteira. Mas se trouxer o valor nominal para um valor real (descontando a inflação), o seu poder aquisitivo pode ser menor”, explica Einar Riveiro, da Economatica.