Uma primeira observação sobre a queda de 1,5% do PIB do Brasil no primeiro trimestre de 2020 é que ele representa para nós brasileiros uma miragem. Isso acontece porque nos primeiros três meses do ano tivemos dois períodos bem distintos em termos de crescimento econômico. Nos primeiros dois meses, antes que os efeitos da crise provocada pela Covid-19 nos atingisse, a economia brasileira cresceu mais de 2% ao ano. Este crescimento – que não existe mais – influenciou dois terços do número divulgado pelo IBGE. Foi só em março que começamos a sentir os efeitos do afastamento social e, principalmente, da crise nos mercados financeiros mundo a fora.
Para entender esta imagem da miragem, basta olhar para os números do PIB nas maiores economias do mundo nos mesmos primeiros três meses do ano e compará-los com o Brasil. Nos Estados Unidos, a economia reduziu-se em 5%; e na Itália, 5,4%. Mesmo em Portugal, que é hoje a economia da Europa com melhor resultado econômico, o PIB caiu 3,8%. Portanto, devemos nos preparar para viver nos próximos meses talvez a pior recessão de nossa história, com um aumento significativo do desemprego – os números divulgados nesta semana na pesquisa trimestral da Pnad também são apenas uma amostra do que vem pela frente – e do déficit fiscal do governo federal.
O último indicador publicado recentemente com algum sinal positivo – o resultado da conta corrente pelo Banco Central – vai ajudar a estabilizar a louca desvalorização do real nos mercados de câmbio que temos visto nos últimos meses. Sob o peso deste desequilíbrio fiscal criado pela necessidade de minorar a situação de empresas, de trabalhadores, de estados e de municípios, a dívida interna do governo federal deverá encostar no valor nominal do PIB. Este é um problema, porém, que só poderá ser tratado quando a economia ganhar novamente sustentação em 2021 e, portanto, não adianta se preocupar agora.
*Economista e engenheiro, Luiz Carlos Mendonça de Barros foi presidente do BNDES e ministro das Comunicações.