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Melhora da economia é fruto da retomada de reformas, diz Lisboa

Presidente do Insper afirma que a agenda reformista precisa ser compreendida pela sociedade e políticos como sendo de interesse do país, e não só do governo

Por Marcelo Sakate Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 22 dez 2017, 16h52
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  • “Será que desta vez aprendemos a lição e percebemos que a melhora da economia tem a ver com a retomada da agenda de reformas?”. A pergunta é do economista Marcos Lisboa, presidente do Insper. Ele diz que a sociedade e os políticos precisam entender que muitas das medidas propostas pelo governo atual, do presidente Michel Temer, são de interesse do país e, portanto, precisam ser mantidas para que a recuperação em curso não seja interrompida. Lisboa diz que essa compreensão será colocada na campanha eleitoral de 2018. “Quais serão as estratégias de cada candidato? As escolhas das opções duras têm que se tornar um debate necessário. Ou vamos, como no passado, fingir que os problemas não existem?” Leia a entrevista com Lisboa, que foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda de 2003 a 2005.

    Quais foram os pontos positivos da política econômica em 2017 que deveriam ser levados para 2018?

    Em primeiro lugar, é uma agenda que vai muito além deste ou daquele governo. Envolve o parlamento e a sociedade. Nós assistimos neste último um ano e meio a um parlamento que responde à sociedade. Reformas importantes foram ampliadas e levadas a cabo, com forte apoio na hora em que a sociedade apoiou e se organizou por elas. Os avanços são as principais reformas aprovadas: a PEC do Teto (aprovada no fim de 2016), a trabalhista, que saiu bem mais ampla e sofisticada do que a versão que o governo enviou ao Congresso, a mudança no marco regulatório da Petrobras e da Eletrobrás e agora a mudança da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) para a Taxa de Longo Prazo (TLP). E no fim do ano voltou a discussão sobre a reforma da Previdência (cuja votação ficou para o início de 2018). O debate está acontecendo.

    E quais foram os principais retrocessos na agenda econômica do governo?

    O governo começou o ano mal com a questão do reajuste dos servidores (que foi mantido), que agravou ainda mais a situação dos estados. Tampouco conseguiu enfrentar essa situação dos estados de forma satisfatória. A renegociação da dívida foi complicada e várias oportunidades foram perdidas, como dar transparência às contas com pessoal. Essa conta, a da folha de pagamento e aposentadorias dos servidores, vai ficar pior em 2018 e mais ainda em 2019. Tem havido retrocessos na área de comércio exterior com essa agenda protecionista, que é oportunista. São medidas que já fracassaram, com consequências ruins para o país no futuro. Estão discutindo o Rota 2030 (novo regime para a indústria automotiva, que pode oferecer vantagens tributárias para quem investir no país), uma tarifa para importar etanol, reservas de mercado para a borracha nacional… O setor do agronegócio vai pagar o preço dessa agenda no futuro. Porque vai haver retaliação.

    Quais serão os principais desafios para a economia brasileira no próximo ano?

    Infelizmente, nos últimos dez anos, foram cometidos tamanhos equívocos que as contas públicas estão completamente desorganizadas. Aliás, o governo não avançou no ajuste fiscal de curto prazo. E isso terá consequências para 2018, 2019. O país está com despesas obrigatórias que chegam ao equivalente a 102%, 104% da receita. Como o país vai enfrentar isso? Ou nós vamos fazer mais reformas ou, em 2019, haverá problemas gravíssimos para pagar obrigações públicas essenciais. O Brasil corre o risco de virar o estado do Rio de Janeiro, que não tem dinheiro para pagar despesas comezinhas. Ou teremos a volta da inflação. Nenhum dos dois cenários é agradável. É um alerta importante de que as reformas têm que andar.

    O senhor acredita que a necessidade de reformas vai entrar no discurso dos candidatos em 2018?

    Nenhum dos principais problemas do país é novo, todos já estavam presentes em 2014. Até antes, em 2012. Ninguém pode dizer que está surpreso com a crise da Previdência. Ninguém pode dizer que está surpreso com o fracasso das políticas nacional-desenvolvimentistas adotadas nos últimos oito a dez anos. Ou com a crise financeira dos estados. Mas optou-se por não discutir os problemas na campanha de 2014. Não deu certo. Será que, desta vez, vamos discutir de fato os problemas? Quais serão as estratégias de cada candidato? Essa é a dúvida. As escolhas das opções duras têm que se tornar um debate necessário. Ou vamos, como no passado, fingir que os problemas não existem?

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    O governo atual vai ter força para avançar a agenda de reformas em um ano eleitoral?

    Avançar a agenda de reformas não é uma questão do governo atual, é da sociedade. Estamos colhendo agora o benefício da agenda de reformas que andou no último ano, um ano e meio. Foi a reversão da política econômica, junto com o cenário externo favorável, que permitiu que o país saísse da grave recessão e tivesse um momento de alívio, uma janela de oportunidades. O desemprego está caindo, a economia está melhorando, a renda está voltando a crescer… Isso foi mérito de o país ter iniciado a agenda de reformas. Será que desta vez aprendemos a lição e vimos que essas grandes reformas ajudam o país a ficar melhor e que, portanto, é necessário que essa agenda tenha continuidade?

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