Durante seu discurso no evento comemorativo ao Dia do Trabalhador em São Paulo, o ministro do Trabalho, Luiz Marinho, destacou as realizações de sua gestão, celebrando a criação de 2,2 milhões de empregos nos últimos 15 meses. Na ocasião, ele criticou as preocupações do Banco Central relacionadas às pressões inflacionárias atribuídas ao aquecimento do mercado de trabalho.
Uma taxa de desemprego que se mantém baixa e estável pode indicar que a economia está crescendo a um ritmo saudável, sem superaquecer. Isso pode levar o BC a considerar manter a Selic para controlar pressões inflacionárias sem frear o crescimento econômico. Ele criticou essa visão, sugerindo que a prioridade deve ser a manutenção da criação de empregos e o fortalecimento econômico, em vez de uma abordagem excessivamente cautelosa, que poderia frear o crescimento.
O ministro também comemorou o aumento do salário mínimo, que, segundo ele, “voltou a subir acima da inflação”, uma medida que reflete não apenas a recuperação econômica, mas também um aumento do poder de compra dos trabalhadores brasileiros. Essa valorização real do salário mínimo é vista como uma vitória significativa para a classe trabalhadora e um sinal de uma política econômica que busca equilibrar crescimento com justiça social.
A preocupação do BC, no entanto, é válida. Isso porque a geração de emprego, apesar de a taxa de desemprego ter subido de 7,8% para 7,9%, segue alta. Além disso, os rendimentos continuam em expansão e se mantêm em níveis altos. Durante a pandemia, muitos trabalhadores não receberam reajustes salariais adequados e a estabilidade dos preços tem permitido ajustes salariais acima da inflação. Portanto, esse ambiente, aliado a uma baixa taxa de desemprego, tem fortalecido a massa de rendimentos. “Pensando a médio prazo, a dinâmica inflacionária merece atenção, especialmente com a implementação da nova política para o salário mínimo, o que pode suscitar preocupações inflacionárias adicionais”, diz Igor Cadilhac, economista do PicPay.
A resiliência do mercado de trabalho e a expansão dos salários, acima da inflação, jogam um papel duplo. Por um lado, sustentam o consumo e a demanda interna, contribuindo para o crescimento econômico. Por outro, podem acender sinais de alerta para pressões inflacionárias futuras, especialmente com a nova regra do salário mínimo, que pode impulsionar ainda mais os rendimentos. Isso coloca o Banco Central em uma posição delicada de equilibrar o estímulo à economia sem desencadear inflação.
Este não é um episódio isolado de crítica por parte do ministro ao Banco Central. Em março, ele já havia expressado descontentamento quando o BC sinalizou uma desaceleração na diminuição da taxa Selic, juntamente com uma preocupação sobre a baixa produtividade econômica. Na ocasião, Marinho atribuiu ao Banco Central uma parte da culpa pelo não cumprimento das projeções de emprego para 2023.
Ele argumentou que a demora na redução da Selic havia contribuído para que as empresas hesitassem em expandir seus quadros de funcionários, em meio a um ambiente de incerteza econômica. Marinho destacou que a política de juros altos foi, em sua visão, irresponsável e resultou na perda potencial de 400 mil a 500 mil empregos.