Três indicados para compor uma chapa alternativa para o conselho de administração da BRF, dona da Sadia e Perdigão, pediram à empresa que seus nomes sejam retirados da chapa montada pelo empresário Abilio Diniz. O comunicado foi divulgado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na noite desta quarta-feira pela BRF.
“Os senhores Augusto Marques da Cruz Filho, José Luiz Osório de Almeida Filho e Roberto Antônio Mendes informaram que não foram previamente consultados sobre a participação em tal chapa”, disse a BRF, referindo-se a chapa anunciada em fato relevante do dia 6 de abril.
Outros quatro conselheiros – Walter Malieni, Roberto Mendes, Vasco Dias e José Luiz Osório – também foram incluídos nessa nova chapa e teriam ficado contrariados com a inclusão, segundo fontes. A BRF recebeu nessa quarta-feira o pedido de exclusão de Osório desta lista, de acordo com pessoas a par do assunto.
A nova chapa de Abilio foi apresentada para concorrer com a dos fundos de pensão no dia 26 de abril. Previ e Petros estão insatisfeitos com o desempenho da BRF, que registrou prejuízo pelo segundo ano seguido, e questionam o processo de reestruturação da empresa conduzido por Abilio e a empresa Tarpon.
Cruz, Almeida Filho e Mendes indicaram que somente aceitaram compor a chapa para o conselho originalmente apresentada pelos fundos de pensão Previ, do Banco do Brasil, e Petros, dos funcionários da Petrobras, divulgada ao mercado em 4 de março.
Augusto Cruz disse à Reuters mais cedo na quarta-feira que não participaria da chapa. “Eu não faço parte e não concordo em fazer parte de nenhuma outra composição do conselho”, disse ele à Reuters.
Crise
Sob a liderança de Diniz e dos novos gestores escolhidos pela Tarpon, a BRF acumulou prejuízo de 1,5 bilhão de reais nos últimos dois anos. Não bastassem as dificuldades nos negócios, a empresa foi chacoalhada por uma nova fase da Operação Carne Fraca, chamada de Trapaça. Entre os alvos está o ex-presidente da BRF Pedro Faria, sócio da Tarpon e alçado ao cargo com o aval de Diniz.
Segundo a Polícia Federal, as áreas de análises laboratoriais de quatro fábricas da BRF falsificavam laudos para esconder problemas sanitários. Antigos executivos da empresa afirmam, reservadamente, que a nova gestão, em sua busca frenética por corte de custos e resultados mais vistosos, acabou comprometendo a qualidade da operação.
Antes do caso policial, a BRF já enfrentava uma crise de credibilidade. A fusão da Perdigão com a Sadia, abatida por apostas cambiais equivocadas na crise financeira de 2008, foi patrocinada pelo BNDES e pelos fundos de pensão Previ, do Banco do Brasil, e Petros, da Petrobras. Nascia ali a Brasil Foods, atual BRF. Dez anos depois, os fundos de pensão não andam nada felizes com os resultados (as ações da empresa perderam cerca de 60% de seu valor desde 2015), e a mudança de comando deve ser selada numa reunião marcada para 26 de abril.
Chapas
A ausência de consulta prévia a integrantes da chapa reforça a ideia de que a lista de Abilio foi feita às pressas para manter poder de barganha do empresário e da Tarpon junto aos fundos de pensão. Na chapa de Abilio, Luiz Fernando Furlan é indicado como presidente do conselho. Flavia Almeida, da Península, e o ex-ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, também fazem parte.
A decisão de compor nova chapa ocorreu após dois dias de reunião do conselho. A disposição era oficializar um acordo entre o empresário e os fundos, que possibilitasse a votação de chapa única e incluísse a renúncia de Abilio do conselho. Mas o empresário recuou e houve impasse em relação aos nomes que iriam compor o novo colegiado – discordância que permanece.
No centro do problema, está a insistência de Abilio em exigir a saída do advogado Francisco Petros, representante da Petros, da relação para o conselho. Ele figura como vice-presidente da chapa apresentada pelos fundos.
Petros e Previ pretendem ainda chegar a um acerto com Abilio, que vem sendo representado nas conversas por Eduardo Rossi, executivo da Península. Apesar de juntos terem participação de 22% – superior a de Abilio e Tarpon, que possuem cerca de 12,5% – os fundos de pensão preferem o consenso. Temem que a disputa aberta na assembleia leve a um desfecho incerto. Uma possibilidade é que Abilio e Tarpon exijam o uso de voto múltiplo. Nas contas dos fundos, eles podem ficar com um número de assentos maior do que já possuem.
Procurados, Abilio Diniz, BRF, Francisco Petros, os fundos de pensão Previ e Petros não comentam. Em nota, a CVM disse que foi comunicada e a questão será analisada em processo.
(Com Redação)