A falta de consenso entre líderes dos partidos sobre o relatório final da reforma da Previdência fez com que a reunião da comissão especial da Câmara dos Deputados desta quinta-feira, 27, fosse desmarcada. Durante o dia, o relator do texto, Samuel Moreira (PSDB) vai se reunir com os líderes e com o presidente da casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ) para tentar construir um entendimento e votar na próxima semana. A volta da reforma de estados e municípios para o texto e o descontentamento de parlamentares com o ministro da Economia, Paulo Guedes, são alguns pontos que adiaram a leitura do parecer.
A expectativa é que a votação fique mesmo para a próxima semana, após a leitura do relatório de Moreira. Porém, até o fim da manhã de quinta, não havia nenhuma reunião convocada para a próxima semana.
A reinclusão dos estados e municípios no relatório é defendido por Maia, que ficou durante toda a quarta-feira tentando costurar o acordo, sem sucesso. Maia ressaltou que a participação de estados e municípios na reforma da Previdência é fundamental para transmitir à sociedade otimismo em relação às reformas e à responsabilidade para recuperar as contas públicas e a credibilidade do País. “(A reforma) pode ser votada na quinta, na terça que vem. Dois ou três dias de atraso por conta de um bom acordo, vale muito mais o bom acordo”, afirmou.
Já a rusga entre os parlamentares e Guedes começou por causa de uma conversa entre o ministro e o governador do Ceará, Camilo Santana (PT). Contrariado com provocações de Maia, que definiu o governo como “uma usina de crises”, o ministro teria afirmado que “o Congresso é uma máquina de corrupção.” Foi o que bastou para o início de uma rebelião. Na tribuna da Câmara, deputados se revezavam na ofensiva contra Guedes. “É inaceitável que sejamos chamados de máquina de corrupção”, afirmou o deputado Alexandre Frota (PSL-SP). Logo depois, porém, Frota recebeu uma mensagem de WhatsApp do próprio Guedes e voltou atrás no comentário.
O ministro argumentou que sua frase fora tirada de contexto. “Eu disse que temos de trabalhar juntos e não cairia na provocação de reagir à acusação de usina de crises”, escreveu Guedes para o deputado. Mais tarde, o Ministério divulgou nota com a mesma justificativa, destacando que o titular da Economia “valoriza o trabalho de todos os parlamentares engajados pela Nova Previdência”. Camilo Santana, por sua vez, disse que Guedes “nunca fez tal comentário contra o Congresso”.
Antes da polêmica, os deputados já se queixavam de que o Palácio do Planalto não cumpre acordos. Líderes de vários partidos – do Centrão e da oposição disseram que o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, prometeu liberar emendas parlamentares para a votação da reforma. A primeira leva seria paga em duas parcelas: 10 milhões de reais após o voto favorável à reforma da Previdência na Comissão Especial e outros 10 milhões de reais depois da aprovação da proposta no plenário. A Casa Civil nega o acordo. “As emendas não estão sendo pagas faz tempo e há uma justa reivindicação de todos neste sentido”, resumiu o líder do PL, deputado Wellington Roberto (PB). “Não é um toma lá, dá cá, mas esperamos que o governo cumpra o que a lei manda.”
(Com Estadão Conteúdo)