O Ibovespa, principal índice de ações do Brasil, iniciou a semana em trajetória de queda, fechando a segunda-feira, 23 de setembro, aos 130,5 mil pontos. Ao mesmo tempo, o dólar continuou sua ascensão, sendo negociado a R$ 5,53. Esa é a quinta queda consecutiva do índice, reflexo das crescentes preocupações fiscais.
Fatores externos adicionam complexidade à situação. Hemelin Mendonça, sócia da AVG Capital, explica: “A semana passada foi dominada pela ‘Super Quarta’, quando o Federal Reserve (Fed) indicou que continuará a reduzir as taxas de juros para evitar o enfraquecimento do mercado de trabalho nos EUA. Em contrapartida, o Brasil aumentou suas próprias taxas, provocando uma forte alta nos juros de longo prazo, impulsionada pelos temores fiscais.”
A fragilidade fiscal do Brasil continua a ofuscar até mesmo os desenvolvimentos positivos no exterior. Nesta semana, o foco se volta para os dados do Índice de Gerentes de Compras (PMI) ao redor do mundo. Na Europa, os números do PMI ficaram abaixo das expectativas, com o PMI de serviços da França registrando 48,5 e o da Alemanha caindo para 40,3, sinalizando uma atividade econômica fraca. “Essa fraqueza é um dos principais fatores por trás da alta do dólar hoje, pois reforça as expectativas de novos cortes de juros pelos bancos centrais europeus nas próximas reuniões”, acrescenta Mendonça.
No Brasil, a atenção se volta para a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, que será divulgada na terça-feira. “Eu antecipo um tom mais agressivo”, comenta Mendonça, “já que as previsões de inflação e PIB continuam a subir semana após semana. Sem um aperto fiscal significativo por parte do governo, apenas aumentar a Selic não será suficiente para conter a inflação.” Outros dados importantes a serem divulgados incluem os índices de confiança do consumidor na terça-feira, a prévia da inflação (IPCA-15) na quarta-feira e o relatório nacional do mercado de trabalho (CAGED) na quinta-feira. No cenário internacional, os EUA divulgarão a leitura final do PIB do segundo trimestre na quarta-feira, seguida pelo índice de gastos com consumo pessoal (PCE) na sexta-feira – uma importante medida de inflação –, que, se estiver em linha com as projeções de aumento de 0,2%, reforçará a narrativa de um “pouso suave” para a economia americana.
No entanto, no Brasil, a perspectiva fiscal permanece sombria. O mais recente relatório Focus, divulgado pelo Banco Central na segunda-feira, revisou para cima sua previsão de Selic para o final de 2024, agora projetando 11,50%, em comparação aos 11,25% anteriores. As projeções de inflação (IPCA) subiram para 4,37%, enquanto a expectativa de crescimento do PIB subiu para 3%. O governo, no Relatório de Avaliação de Receitas e Despesas Primárias, projetou um déficit fiscal de R$ 28,4 bilhões, apoiado por previsões de receita melhores do que o esperado para 2024. No entanto, o relatório também destacou a necessidade de um corte adicional de R$ 2,1 bilhões no orçamento para permanecer dentro do teto de gastos para o ano corrente.
Após a divulgação do relatório, o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que as despesas do governo permanecem dentro do arcabouço fiscal do país e que a meta fiscal será cumprida. Ele também argumentou que a inflação está em uma trajetória de queda e que a Selic responderá a esse comportamento, sugerindo que a nota de crédito do Brasil pode até melhorar. Mas, segundo Mendonça, tais declarações são “um tanto contraditórias”, dado que os mercados futuros estão precificando expectativas de inflação mais altas para os próximos anos, e o relatório Focus revisa constantemente para cima as projeções de inflação, PIB e Selic.
A entrada de capital estrangeiro continua sendo uma preocupação, levantando alertas para os investidores. Agravando a situação, a queda no preço do minério de ferro adicionou mais pressão sobre o índice. Enquanto isso, o fortalecimento do dólar em relação ao real é outro sintoma do deterioração das perspectivas fiscais do Brasil, corroendo ainda mais a confiança nos rumos econômicos do país.