O governo do presidente Michel Temer deve enfrentar dificuldades para aprovar o pacote anunciado ontem pela equipe econômica. Para cumprir a meta de déficit primário de 159 bilhões de reais em 2017 e 2018, o governo precisa do aval do Congresso para aprovar uma série de medidas, algumas impopulares, como o adiamento do reajuste salarial dos servidores, a elevação da alíquota de contribuição previdenciária e a reoneração da folha de pagamento.
“Funcionalismo tem peso no Congresso”
Para o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), a principal dificuldade são as medidas que envolvem o funcionalismo público. “O reajuste salarial foi muito negociado no Congresso e teve o apoio de líderes do governo. É difícil voltar atrás nas negociações. O aumento da alíquota de contribuição previdenciária é difícil de passar. A reação vai ser muito grande, e o funcionalismo tem um peso muito grande no Congresso.”
“Governo teve coragem”
Apesar da dificuldade, o deputado governista Darcisio Perondi (PMDB-RS) afirma que o governo demonstrou coragem ao comprar briga com o funcionalismo. “O governo já teve coragem ao comprar a briga da reforma da Previdência. A segunda briga é contra as corporações públicas. Todos têm de colaborar neste momento. Pobres, doentes e desempregado já cooperam há muito tempo. Agora é hora da corporação pública opulenta fazer sua contribuição.”
O deputado Beto Mansur (PRB-SP), ligado ao presidente Michel Temer, defendeu as medidas propostas pelo governo, como a limitação do salário inicial do funcionalismo a 5.000 reais. “Tinha servidor que entrava na carreira com um salário alto. O teto continua o mesmo.”
Mansur minimizou a dificuldade para aprovar o pacote, pois afirma que o governo demonstrou a necessidade de adotar medidas de reequilíbrio fiscal. “Não somos maus gastadores, estamos apenas fazendo as contas certas. Dificuldades sempre há [para aprovação], mas estamos trabalhando para aprovar tudo. Acho que tudo será aprovado.”
Zarattini diz que a necessidade de revisão das metas expõe o fracasso da equipe econômica de Temer. “O rombo continua gigantesco e a probabilidade é de que a receita continue caindo. Não foi anunciada nenhuma medida para recuperar a economia, que vai continuar afundando.”
“Governo se fragilizou”
Para o deputado Rubens Bueno (PPS-PR), que votou a favor da admissibilidade da denúncia da Procuradoria contra Temer, a fragilidade política do governo é o maior empecilho para a aprovação das medidas que serão enviadas ao Congresso.
“Tudo é mais difícil depois que o governo se fragilizou politicamente. Agora, aqueles que defendem são mesmos que colocaram dificuldade para aprovar medidas econômicas enviadas pelo governo. O Refis é um exemplo, o governo foi cedendo, cedendo e virou uma coisa negativa”, disse Bueno.