Desde o início da pandemia, em 2020, o pequeno punhado dos homens mais ricos do mundo ficou mais rico, enquanto o grosso da população empobreceu, efeito que colaborou para ampliar ainda mais a desigualdade global, de acordo com a Oxfam, organização internacional de pesquisas voltadas para a redução da pobreza.
As grandes empresas também se encaminham para ter lucros recordes, enquanto que mais de 80% desse volume de dinheiro gerado por elas tem sido devolvido aos acionistas – em sua maioria, um grupo já formado por super-ricos -, na forma de dividendos e outras remunerações. Essas são algumas das principais conclusões do relatório “Desigualdade S.A.”, divulgado nesta terça-feira, 16, durante o Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça.
De acordo com o estudo, a fortuna dos cinco homens mais ricos do mundo cresceu 114% de 2020 a 2023. São eles: Elon Musk (CEO da Tesla), Jeff Bezos (fundador da Amazon), Bernard Arnault (dono da Louis Vuitton), Bill Gates (Microsoft) e Mark Zuckerberg (Facebook). Juntos, eles possuem, atualmente, 869 bilhões de dólares, ou o equivalente a uma média de 173 ,8 bilhões para cada um deles. Em 2020, esse patrimônio conjunto era de 405 bilhões de dólares. O aumento foi de 464 bilhões de dólares de lá para cá.
Nas contas da Oxfam, se cada um deles gastasse 1 milhão de dólares por dia, o equivalente a quase 5 milhões de reais diários, levaria 476 anos para gastar tudo o que tem.
No mesmo período, 5 bilhões de pessoas, ou 60% da população global, ficaram mais pobres, atingidas por desemprego, salários congelados ou, simplesmente, a inflação alta comendo o poder de compra de seus rendimentos.
Nesse ritmo, calcula a entidade, serão necessários 230 anos para erradicar a pobreza – embora, em apenas dez anos, o mundo já possa ver o primeiro trilionário de sua história.
A Oxfam também destaca em seu relatório a reverberação da desigualdade pelos mercados financeiro e corporativo, já que os super-ricos têm maior chance de estar tanto entre os donos ou executivos das grandes empresas, quanto entre os investidores que aplicam e ganham com elas.
“Um novo estudo realizado em 24 países da OCDE concluiu que 10% das famílias mais ricas possuem 85% do total dos ativos de capital – incluindo ações em empresas, fundos fiduciários e outros negócios – enquanto os 40% mais pobres possuem apenas 4%”, diz o relatório. “No Brasil (…), o 1% mais rico possui 63% dos ativos financeiros, enquanto os 50% mais pobres têm apenas 2%.”
É essa concentração de acionistas já ricos que recebeu algumas das maiores distribuições de lucros da história nos últimos anos. Os levantamentos da Oxfam dão conta de que 82% dos lucros gerados por um conjunto de 96 grandes empresas analisadas foram devolvidos em remuneração aos acionistas, na forma de dividendos ou recompra de ações, por exemplo.
Isso em um período de lucros extraordinários: o lucro das maiores empresas do mundo, entre 2021 e 2022, foi 89% maior do que a média de 2017 a 2020, de acordo com levantamento da Oxfam com a ActionAid. “Esses enormes pagamentos beneficiam desproporcionalmente os ricos porque a propriedade das ações tem um forte viés em favor deles”, diz o relatório.
A conta da entidade é que se o volume bilionário pago em dividendos pelas grandes empresas em 2022, e que foram par aos 10% mais ricos, fosse para os 40% mais pobres, a desigualdade de renda global cairia 21,5%. É uma redução equivalente àquela alcançada ao longo dos últimos 41 anos, considerado o índice Palma, uma das maneiras de calcular a concentração de renda na população.
“Além disso, metade do valor pago aos 10% mais ricos em 2022 já poderia acabar com a pobreza global e 1,6% dos pagamentos já conseguiria eliminar a pobreza extrema”, afirma a Oxfam. De acordo com os parâmetros do Banco Mundial, é considerada pobre a população que vive com menos de 6,85 dólares por dia, enquanto a extrema pobreza é aquela em que estão as pessoas que têm menos de 2,15 dólares por dia.