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Fórmula E ganha fãs pelo mundo com tecnologia sustentável

Modalidade que reúne monopostos elétricos, introduz novidades que serão mais tarde usadas nos carros de rua

Por Alessandro Giannini, de Madri
30 nov 2024, 08h00

A Fórmula E, campeonato mundial de monopostos elétricos, se prepara para a sua 11ª edição com a promessa de fazer uma revolução silenciosa e sustentável no mundo do automobilismo. A temporada 2024/2025, que terá luz verde em São Paulo, no próximo dia 7 de dezembro, marca a estreia do modelo Gen3 EVO, carro mais veloz e potente do que as versões anteriores da categoria, e que supera até mesmo em aceleração os Fórmula 1 da era moderna. Embora jovem, a FE tem conquistas a comemorar. Em dez anos, passou por transformações que na F1 levaram várias décadas. A evolução dos monopostos eletrificados mostra isso. Na nova geração de carros, a aceleração, de zero a 100 quilômetros por hora, caiu de quase três segundos para 1,82, a velocidade máxima foi de cerca de 250 quilômetros por hora para 322 quilômetros por hora. A bateria também evoluiu: antes, acabava na metade das provas. Agora, sustenta uma corrida até o final. “Ninguém pode dizer que a FE é lenta”, afirma Lucas Di Grassi, piloto da equipe Lola Yamaha ABT, único remanescente brasileiro da categoria, já que Sérgio Sette Câmara não ficou na equipe ERT. “Ela é mais rápida que a F1 em aceleração.”

Nesse sentido, a FE se apresenta como uma plataforma de investimento lucrativa, com um modelo de negócio inovador e custos significativamente menores que a F1. Jeff Dodds, executivo-chefe do campeonato da Fórmula E, ressalta a importância da categoria para o desenvolvimento da tecnologia de automóveis elétricos. “Ainda estamos aprendendo sobre o desenvolvimento de trem de força e baterias, e isso vai direto da pista para o seu carro”, afirma Dodds. “Seja Jaguar, Nissan ou Stellantis, eles estão aprendendo coisas na pista que são aplicadas em seus carros de produção (em massa).”

O formato do negócio da categoria acaba sendo um dos grandes atrativos para investidores e fabricantes. Em contraste com a F1, na qual a entrada de uma equipe pode custar na casa do bilhão de dólares, a FE se apresenta como uma opção mais acessível, com custos significativamente menores. “O valor de entrada em uma equipe da FE está em torno de 25 milhões de dólares”, afirma Dodds. Essa diferença se reflete também no teto de gastos das equipes, que na FE é de 14 milhões de dólares, enquanto na F1 chega a 145 milhões de dólares, excluindo o salário dos pilotos e outros custos.

Jeff Dodds, CEO da Fórmula E: modelo de negócios atraente
Jeff Dodds, CEO da Fórmula E: modelo de negócios atraente (Simon Galloway/LAT Images/Getty Images)
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Apesar dos custos mais baixos, a FE já conta com uma base de fãs considerável, com cerca de 400 milhões de pessoas em todo o mundo, e promete um retorno significativo. Dodds enfatiza que a categoria busca ser um esporte inclusivo, tanto para fãs quanto para investidores, com ingressos a preços acessíveis e oportunidades para fabricantes desenvolverem tecnologias inovadoras. O efeito econômico que gera nas cidades onde as corridas são realizadas, com um movimento estimado entre 52 milhões e 84 milhões de dólares, é similar ao impacto do primeiro jogo da NFL realizado em São Paulo, em setembro, que foi de 60 milhões de dólares.

A FE também se destaca pelo compromisso com a sustentabilidade. A categoria busca, desde a criação, reduzir sua pegada de carbono. A meta é alcançar corte de 45% até a 15ª temporada. A organização implementa práticas sustentáveis em todas as etapas da Fórmula E, da fabricação dos carros à logística das corridas. “Tudo o que fazemos é focado em reduzir nossa pegada de carbono”, afirma Dodds. “Somos classificados como o esporte número 1 em ESG no mundo.” A categoria utiliza energia 100% renovável em seus eventos e seus carros de corrida são projetados para serem totalmente recicláveis, demonstrando um compromisso genuíno com a sustentabilidade ambiental.

Mulheres na pista do circuito de Jarama: momento histórico do esporte
Mulheres na pista do circuito de Jarama: momento histórico do esporte (Eric Alonso/DPPI/AFP)
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O Brasil, com sua paixão por automobilismo e um mercado em franca expansão para carros elétricos, é um território estratégico para a FE. A escolha de São Paulo como palco da corrida de abertura da temporada 2024/2025 reforça a importância do país para a categoria. “O Brasil é um mercado muito grande e apaixonado por automobilismo”, afirma Dodds. “Se olharmos para nossos principais mercados estratégicos, sempre vemos um futuro com o Brasil como parte fundamental do negócio, provavelmente para sempre.”

A corrida em São Paulo, que será realizada no circuito de rua do Sambódromo do Anhembi, pode funcionar até mesmo como um chamariz para o mercado de veículos movidos a eletricidade. “No final do ano passado, tivemos pela primeira vez um carro elétrico que as pessoas entenderam que dava para comprar”, diz Di Grassi, o piloto brasileiro da Lola Yamaha. “Começou a haver essa paridade de preços, o que é importante para o Brasil, porque mostra que a tendência é que os elétricos fiquem cada vez mais baratos para o público em geral.”

Prova da categoria em São Paulo: chamariz para o mercado de carros elétricos
Prova da categoria em São Paulo: chamariz para o mercado de carros elétricos (stringer/Anadolu Agency/Getty Images)
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A Fórmula E também se destaca pela busca por maior diversidade no automobilismo. A realização de um teste exclusivo para mulheres na pré-temporada em Madri propagou o compromisso da categoria quanto a oferecer oportunidades iguais para todos. Até porque a inclusão feminina no automobilismo é importante não apenas do ponto de vista esportivo, mas também de negócios. “Acredito que o futuro do automobilismo precisa de mulheres”, afirma Beth Paretta, vice-presidente de Esporte da Fórmula E. “A maioria do público do automobilismo sempre foi de homens, mas as mulheres influenciam as decisões de compra de carros. Precisamos expandir o público, e as mulheres são um novo grupo com o qual podemos nos conectar.”

Paretta acredita que a participação delas na Fórmula E pode atrair um novo público para a categoria, além de inspirar futuras gerações de engenheiras, mecânicas e pilotos. Tatiana Calderón, piloto colombiana que participou do teste em Madri, destaca a importância de iniciativas como essa para o desenvolvimento do automobilismo feminino. “É muito importante que nos sejam dadas oportunidades para mostrar as aptidões que cada mulher tem”, afirma Calderón. “Acho que as equipes precisam perceber do que somos capazes.”

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Sob diversos aspectos, a Fórmula E tem se consolidado como uma força em ascensão no automobilismo mundial, impulsionada pela inovação tecnológica, sustentabilidade, compromisso com a diversidade e um modelo de negócios atraente. Sua ambição é se tornar a segunda maior do mundo em tamanho, atrás apenas da Fórmula 1 e à frente de disputas tradicionais, como a das americanas Fórmula Indy e Nascar. Com o crescimento da base de fãs, e o desenvolvimento de carros cada vez mais rápidos, a categoria, de fato, se posiciona como uma alternativa moderna ao automobilismo tradicional. Os fãs da velocidade agradecem.

Publicado em VEJA, novembro de 2024, edição VEJA Negócios nº 8

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