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Cenário fiscal pode ser pior notícia para o Brasil do que recessão nos EUA

Aumenta probabilidade de corte de 0,50 ponto percentual pelo Fed, o que poderia beneficiar o Brasil, que está com a Selic a 10,5%, mas fiscal reduz atratividade

Por Luana Zanobia Atualizado em 8 ago 2024, 21h43 - Publicado em 7 ago 2024, 15h57
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  • Os mercados globais enfrentam um período de intenso estresse devido às crescentes preocupações com uma possível recessão nos Estados Unidos. Após a divulgação de dados mais fracos do mercado de trabalho (payroll) – com a taxa de desemprego subindo para 4,3% –, aumentaram as expectativas de que o Federal Reserve (banco central americano, o Fed)  precisará realizar um corte mais agressivo na taxa de juros do país.

    A probabilidade de um corte de 0,50 ponto percentual subiu de 5,5% há um mês para 63,5% agora, segundo o FedWatch, ferramenta do CME Group. Além disso, há especulações sobre a possibilidade de uma reunião de emergência antes de setembro, o que pode influenciar o cenário econômico e impactar os mercados.

    Para César Garritano, economista-chefe da SOMMA Investimentos, a economia americana está em processo de desaceleração e os dados de emprego acabaram sendo o estopim para o temor de uma recessão. “Desde maio, temos observado que as informações macroeconômicas são mais frequentemente negativas do que positivas, e este dado do payroll, muito mais fraco do que o esperado, acendeu a possibilidade de o país entrar numa recessão”, diz. Além disso, há uma sensação no mercado de que o Fed “perdeu a mão” no ajuste da política monetária. O Fed, comandado por Jerome Powell, adotou uma postura mais branda no início do ano, mesmo com os dados de inflação mostrando elevações significativas. Nas últimas semanas, com dados mais moderados, o Fed tentou corrigir sua abordagem, mas de forma tardia e, possivelmente, de maneira inadequada. “Em outras palavras, quando era necessário ser mais rigoroso, foi brando, e quando precisava ser mais brando, foi rigoroso”, avalia Garritano.

    O Banco Central do Brasil, sob a liderança de Roberto Campos Neto, tem seguido uma trajetória distinta. Reconhecido e elogiado internacionalmente pela rápida resposta à inflação, o Banco Central conseguiu iniciar o ciclo de cortes de juros antes dos países desenvolvidos. No entanto, agora há uma inversão inesperada nas expectativas. Enquanto nos Estados Unidos a probabilidade é de um corte nas taxas de juros, no Brasil aumentam as chances de elevação da Selic. Apesar das direções opostas, esse movimento pode beneficiar a atração de investimentos para o Brasil. Taxas de juros mais altas no Brasil, em contraste com possíveis cortes nos Estados Unidos, aumentam o diferencial de juros entre os dois países. Esse diferencial maior torna o Brasil mais atraente para investidores estrangeiros que buscam maiores retornos, resultando em um influxo de capital. “Esse fluxo de capital ajudou na valorização do real, que liderou os ganhos dos mercados emergentes contra o dólar no pregão de ontem”, diz Luiz Rogé, economista e sócio da Matriz Capital Asset.

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    No entanto, o cenário fiscal pode complicar essa perspectiva. A situação fiscal do Brasil é um fator crucial para a confiança dos investidores. Se o governo não conseguir controlar o déficit, os investidores podem temer um aumento descontrolado da dívida pública. Isso pode levar a uma fuga de capitais, apesar das taxas de juros mais altas, resultando na desvalorização do real em vez de sua valorização. Além disso, a percepção de risco associada às finanças públicas do Brasil pode aumentar o prêmio de risco exigido pelos investidores. Mesmo com juros elevados, a falta de confiança na saúde fiscal do país pode afastar os investidores, pressionando ainda mais o câmbio. O dólar chegou a superar os R$ 5,70 nos últimos dias devido ao aumento da aversão ao risco global. No entanto, desde que surgiram preocupações fiscais, a moeda tem se mantido próxima ao patamar de R$ 5,60.

    A sustentabilidade fiscal é, portanto, uma peça-chave para garantir que as políticas monetárias do Banco Central atinjam os efeitos desejados. Sem ela, o país pode enfrentar uma espiral de desvalorização da moeda e aumento da inflação, complicando ainda mais o cenário econômico.

    Risco é exagerado

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    O Goldman Sachs acredita que o medo de uma recessão é exagerado. Segundo o banco, “ainda vemos algumas razões para pensar que o aumento na taxa de desemprego – embora maior e mais preocupante agora – é menos perigoso do que aumentos anteriores. Mais de 70% do aumento em julho veio de demissões temporárias, que podem ser revertidas e não são um bom indicador de recessão”. A instituição continua a ver o risco de recessão como limitado, “não apenas porque os dados econômicos gerais ainda parecem bons e não vemos grandes desequilíbrios financeiros, mas também porque – como o presidente do Fed, Jerome Powell, enfatizou na semana passada – o Fed tem espaço para cortar a taxa de juros e certamente agiria rapidamente para apoiar a economia se necessário”.

    O banco americano projeta que o crescimento do emprego se recuperará em agosto e que o Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC) vai considerar um corte de o,25 ponto percentual na taxa de juros uma resposta adequada. “Se estivermos errados e o relatório de emprego de agosto for tão fraco quanto o de julho, então um corte de 0,50 ponto percentual seria provável em setembro”, afirmou o banco.

    A presidente do Fed de São Francisco, Mary Daly, afirmou que a política monetária está claramente “funcionando como pretendido” e que ainda é cedo para determinar se há uma fraqueza real no mercado de trabalho. Austan Goolsbee, presidente do Fed de Chicago, acrescentou que os dados de empregos de sexta-feira não indicam uma recessão e que “não devemos reagir a um único número; devemos sempre olhar para o futuro”.

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