Pela quarta vez no ano, o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, aumentou a taxa básica de juros da economia americana, mirando a forte inflação no país. A alta de 0,75 ponto percentual deixa os juros na faixa de 2,25% a 2,5%. Na prática, ao tornar o dinheiro mais caro para emprestar, há queda na demanda, uma forma de tentar reduzir a escalada de preços. Quando o nível de gastos é diminuído, seja pelos consumidores ou empresas, os preços tendem a cair. Porém, elevar a taxa de juros significa também aumentar o risco de recessão e é esse o desafio que o Fed tem para equilibrar: baixar a atual inflação de 9,1%, a mais alta em 40 anos, e tentar evitar a recessão da maior economia do mundo.
A expectativa maior, na tarde desta quarta-feira, é com o discurso do presidente do Fed, Jerome H. Powell, sobre os próximos passos na política monetária. Ao continuar com o cenário de alta nos juros, há mais riscos de desencadear a referida recessão, deixando trabalhadores desempregados e famílias com renda mais baixa. Nas última reuniões, em linha sucessiva, o Fed elevou as taxas de juros em 0,25 pontos em março, 0,50 em maio, e 0,75 em junho, seu maior movimento desde 1994. Para Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, houve uma intensificação do debate sobre o risco de recessão, por outro lado, “o Fed tem reafirmado seu compromisso com trazer a inflação para trajetória de acordo com as metas”, menciona.
Com o anúncio dessa quarta, o BC americano manda um sinal de máximo cuidado com a política monetária, isto é, uma tentativa de manter a taxa de juros em um nível que não cause estagnação econômica e, muito mesmo, deixe margem para estimular a economia já aquecida, com preços subindo rapidamente. Por motivações políticas ou não, Biden foi enfático ao dizer que o país “não está indo para uma recessão”, em encontro virtual com executivos do setor de tecnologia esta semana. Entretanto, uma economia sustentável para os próximos meses ou para o próximo ano também não é uma garantia.
Na última terça, 26, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou para a crescente possibilidade de estagnação econômica global, considerando os indicadores negativos nos maiores PIBs do mundo: Estados Unidos, China e em países europeus. “Uma eventual recessão nos Estados Unidos, um dos principais parceiros comerciais do Brasil, impacta de forma negativa o fluxo comercial e financeiro por aqui, que indiretamente acaba sendo ruim para a nossa moeda e para os nossos indicadores de atividade econômica, mas, por enquanto, ainda é cedo para falar em recessão por lá”, avalia Cristiane Quartaroli, economista do Banco Ourinvest.
Cenário brasileiro
O motivo de mercados emergentes, como o Brasil, sofrerem potencialmente mais com o sucessivo aumento de juros nos EUA está relacionado à maior instabilidade das economias desses países. Quartaroli cita o movimento chamado de flight to quality, ou “voo para a qualidade”, durante crises econômicas. A lógica seria o abandono de ativos considerados de risco, sobretudo em países emergentes, e a aposta em títulos, vistos como relativamente mais seguros e, portanto, de maior “qualidade”.
Os títulos do Tesouro americano são os maiores exemplos de segurança e, com o aumento de juros, tornam-se mais rentáveis. “A continuidade da alta de juros nos Estados Unidos tende a fortalecer o movimento de aversão a risco e fortalece o dólar frente a outras moedas. Assim, trata-se de um cenário desafiador para economia brasileira, com pressão de alta para a taxa de câmbio”, menciona Natalie Victal, da SulAmérica Investimentos.
A inflação brasileira ainda está na casa de dois dígitos no Brasil, em 11,89% no acumulado de 12 meses, até junho. Na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), órgão do Banco Central, a expectativa é também de um novo aumento de juros por aqui.