Em semana de Copom, mercado revisa projeção de inflação e câmbio para cima
Boletim Focus elevou as projeções do IPCA 2023 e 2024 e do dólar para este ano; comunicado da reunião é aguardado para sinalizar próximos passos
Começa nesta terça-feira, 19, a segunda reunião do ano do Comitê de Política Monetária do Banco Central. Amanhã, o colegiado formado pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto e os outro oito diretores, anuncia a decisão sobre a taxa básica de juros do país. A aposta do mercado é que o BC faça um novo corte de meio ponto percentual, levando a Selic a 10,75% ao ano. A expectativa fica pelo relatório e pistas sobre os próximos passos. A inflação, ponto chave da equação, voltou a subir nas projeções do mercado. Segundo o Boletim Focus divulgado hoje, o índice de preços deve terminar o ano em 3,79%.
O dado é ligeiramente maior que os 3,77% da semana passada, e é a segunda semana consecutiva que os analistas projetam para cima a inflação do ano. Houve também ajuste na previsão de 2025, de 3,51% para 3,52%. A projeção do IPCA tanto para esse ano quanto para o próximo estão acima da meta determinada pelo Conselho Monetário Nacional, de 3%, mas dentro da margem de tolerância, que vai até 4,5%.
A inflação medida pelo IPCA voltou a acelerar em fevereiro, com resultado de 0,84% no mês. Além do fator sazonal, de reajustes escolares que pesam no mês de fevereiro, a alta dos alimentos e dos transportes também puxou a inflação para cima.
Na reunião passada, o Copom havia dito na ata que o processo de desinflação passou a ser mais lento nessa fase, e mais desafiador. “Os dados sugerem que o esforço para reduzir a inflação seja mais complexo do que vinha sendo antecipado”, afirma Beto Saadia, economista e diretor de investimentos da Nomos. O mercado de trabalho aquecido, tanto em contratações quanto salários vem pressionando o índice, em especial a inflação de serviços.
“Mesmo já esperado a redução de juros na próxima reunião, estamos atentos a possível mudança da comunicação sobre as reuniões futuras, o chamado ‘forward guidance’. Ele deve ser mantido na próxima reunião, mas parece razoável que a Ata do Copom dê sinais de que essa pré-sinalização de cortes múltiplos não deva se sustentar na reunião de maio”, afirma Saadia.
Além da revisão da inflação, o mercado financeiro também aponta uma revisão na taxa de câmbio, que influencia diretamente os preços. De acordo com o Boletim Focus, o dólar comercial deve encerrar o ano cotado a 4,95 reais, acima dos 4,93 reais da semana passada. Na segunda-feira, a moeda americana fechou o dia cotada a 5,02 reais, uktrapassando a barreira dos 5 reais pela primeira vez desde outubro do ano passado.
Um dos motivos que mexem com o câmbio é a política monetária americana, com juros em patamares elevados, que torna investimentos em títulos públicos mais atrativos a investidores, causando fuga de capital de países emergentes, como o Brasil. Nesta quarta-feira, o banco central americano também anuncia sua decisão sobre juros. Assim como aqui, investidores buscam olhar pistas sobre os próximos passos, de quando os cortes devem começar por lá.