A ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, divulgada nesta terça-feira, 24, detalha os motivos da decisão de aumentar a taxa básica de juros, a Selic, em 0,25 ponto percentual, chegando a 10,75% ao ano. No documento, o colegiado destaca que, apesar de haver pressão tanto para alta quanto para queda da inflação, as pressões altistas são maiores, sendo assim necessário o início do ciclo de aperto monetário — o primeiro em dois anos.
Os três principais motivos que levaram à alta são: desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário,
“por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada”, lista o Copom.
“A conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito às famílias segue indicando um suporte ao consumo e consequentemente à demanda agregada. Em síntese, à luz da atualização dos dados de atividade do período e dos modelos apresentados, o Comitê concluiu que o hiato está em campo positivo”, diz o colegiado.
Em boa parte do documento, o colegiado ressalta a resiliência na atividade econômica, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo. Esse hiato positivo indica que a economia está operando acima de sua capacidade, geralmente com utilização total de mão de obra e capital, o que tende a gerar pressões inflacionárias.
“O Comitê observou o continuado dinamismo no mercado de trabalho, verificando-se ganhos reais nos salários nos últimos meses. Como não há evidência de aumento significativo de produtividade, tais ganhos podem refletir pressão no mercado de trabalho”, diz o documento. “Argumentou-se que não há evidência ainda de que pressões
salariais estejam impactando preços, mas ressaltou-se que o crescimento real de salários, em se mostrando persistente e acima de ganhos de produtividade, acabará tendo impacto sobre preços. O Comitê nota, porém, que o momento e a magnitude desse canal de transmissão permanecem incertos”, enfatiza.
Sobre os próximos passos, o BC deixou a porta bem aberta para o ciclo de alta, mas não não quis se comprometer com o ritmo de aumento ou a magnitude total do ajuste.
“O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”
A avaliação de uma parte do mercado financeiro é que a projeção de inflação em 3,5% e o tom duro do BC no comunicado já dariam espaço para uma alta maior da Selic, de 0,50 ponto percentual, em vez de 0,25pp.
A aceleração do ritmo de aperto já é a expectativa majoritária do mercado para a próxima reunião. A depender dos sinais do BC na ata, também podem ser ajustados a aposta para a magnitude total da elevação da taxa.