A eleição nos Estados Unidos, vencida pelo republicano Donald Trump, é um evento inegavelmente importante para o futuro da política monetária americana. Isso porque as decisões do presidente a respeito de diversos temas — imposição de tarifas comerciais, decisões de gastos orçamentários e outras políticas econômicas — vão interferir na trajetória da inflação e, consequentemente, na rota dos juros. Por ora, no entanto, os efeitos ainda são limitados, e será preciso esperar os próximos passos para se ter certeza qual rumo tomará a política monetária da maior economia do mundo.
Essa visão não é apenas compartilhada por economistas como também foi dividida hoje por Jerome Powell, presidente do Federal Reserve, o banco central americano, logo após a decisão do órgão de reduzir em 0,25 ponto percentual (pp) a taxa básica de juros do país, para o intervalo de 4,5% a 4,75%. “No curto prazo, a eleição não tem efeitos nas decisões”, afirmou ele em coletiva a jornalistas. “Não adivinhamos, não especulamos e não presumimos.”
O grande receio que economistas e analistas têm em relação ao mandato de Trump está no perfil inflacionário das eventuais decisões, com base no que o republicano já declarou publicamente. O estilo agressivo de desejar a imposição de tarifas contra produtos chineses, por exemplo, é um desses aspectos, já que tem potencial de reduzir a concorrência e, desse modo, servir de catapulta para os preços dos produtos. Além disso, com uma previsão de maior déficit orçamentário, cresce a preocupação com a alta da inflação.
Ainda é cedo para afirmar que essas e outras políticas serão de fato tomadas e, sobretudo, em qual dimensão. No entanto, investidores em todo o mundo já tentam antecipar os eventuais efeitos para se posicionarem de modo a aproveitar os potenciais ganhos e não incorrer em grandes perdas. Quanto maior o aceno de Trump a medidas que elevem a inflação, maior será a procura dos investidores por títulos americanos, à espera de remunerações maiores, em detrimento de outros mercados globais.
“O caminho para os cortes do Fed está mais nebuloso hoje do que estava uma semana atrás, antes das eleições. O mercado está sinalizando que a administração de Trump será boa para o crescimento e para ativos de risco, mas a combinação de uma expansão rápida com novas tarifas seria inflacionária”, afirma Scott Helfstein, chefe de estratégias de investimentos da Global X. “Enquanto o Fed acredita que os riscos estão equilibrados entre preços estáveis e máximo emprego, isso pode mudar rapidamente, elevando os riscos de uma reaceleração da inflação.”
Até aqui, o mercado ainda enxerga uma continuidade no ciclo de corte das Fed Funds. Para a última reunião do ano, em 18 de dezembro, a probabilidade de um corte de mais 0,25 pp, para a faixa entre 4,25% e 4,50%, é de 74,5%, com apenas 25,5% de chance de uma pausa no nível atual. O percentual é calculado a partir dos dados implícitos nos contratos de juros futuros negociados no mercado americano, segundo a ferramenta CME FedWatch.