Apenas empregos com baixa qualificação estão sendo gerados no Brasil. Essa é a conclusão possível de ser extraída após a publicação dos principais indicadores de mercado de trabalho no país. A explicação está no baixo crescimento deste ano.
Nesta sexta-feira, 28, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio Contínua (Pnad-Contínua) também trouxe dados que corroboram essa visão. A subutilização, empregos que consomem menos de 40 horas semanais, da força de trabalho cresceu entre junho e agosto deste ano, quando comparado com igual período de 2017. A taxa mais recente é de 24,4% do total de trabalhadores empregados. Há um ano, esse indicador estava em 24%. Isso representa 756 mil profissionais subempregados a mais.
De modo geral, a Pnad apresenta uma queda do desemprego. Passou para 12,1% entre junho e agosto. Há um ano, estava em 12,6%.
Outro dado que serve de alerta para a falta de qualidade nos novos empregos é a quantidade de trabalhadores no setor privado sem carteira assinada. Entre junho e agosto, esse contingente somou 11,2 milhões de pessoas, uma alta de 4% frente a igual período de 2017.
Piora também o rendimento médio dos trabalhadores. Entre junho e agosto, os vencimentos médios ficaram em 2.225 reais. Nos três meses anteriores, esse indicador estava em 2.226 reais. E entre dezembro de 2017 e fevereiro de 2018, os vencimentos médios estavam em 2.239 reais. A pequena variação, que até pode ser entendida como estável, indica a dificuldade em transformar o aumento do emprego em maior remuneração.
O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) comprova essa piora. Entre janeiro e agosto deste ano, a única faixa salarial na qual o emprego formal cresce é a de até dois salários mínimos. São 705 mil postos de trabalho a mais do que havia ao final do ano passado. A partir deste nível de remuneração, as vagas continuam sendo fechadas. Ao todo, foram 240 mil postos de trabalho fechados.
“A redução do índice de desemprego não necessariamente significa uma tendência de melhora. Eventualmente, pode ser entendida como um sinal de não piora, se olhados os números absolutos”, afirma Monica Desiderio, professora de MBA da Business School São Paulo.
Desde novembro de 2017, algumas regras trabalhistas foram flexibilizadas. O governo esperava que isso pudesse impulsionar a criação de postos de trabalho de uma forma geral. Ou seja, a expectativa era que não só a quantidade de postos de trabalho aumentasse, mas as remunerações também. No entanto, a lenta recuperação econômica – o Banco Central estima que o PIB brasileiro crescerá 1,4% este ano – está impedindo a melhora da qualidade do emprego.
“Esperávamos que no segundo semestre deste ano o emprego já apresentasse uma melhora qualitativa. Mas a atividade econômica está em uma recuperação lenta e a greve dos caminhoneiros acabou atrapalhando ainda mais”, diz Thais Zara, economista da Rosenberg Associados.
Ela, que espera que o desemprego termine o ano em 12%, acredita que a partir de 2019, empregos com remuneração mais alta voltarão a aparecer. “Como a atividade está modesta, a recuperação vai ser demorada do mercado de trabalho. Esperamos isso agora para o ano que vem.”