Como já era esperado por economistas, o dólar abriu o pregão desta sexta-feira, 21, em alta frente ao real. A moeda americana ultrapassou, pela primeira vez na história, a marca de 4,40 reais. VEJA antecipou essa movimentação na última quarta-feira, 19, no terceiro dia seguido de escalada cambial. Na maior cotação do dia, até às 10h55, o dólar chegou a registrar 4,4023 reais para compra, e 4,4044 reais para venda.
Para conter a disparada, o Banco Central injetará dólares no mercado neste pregão: até 13 mil contratos de swap cambial tradicional com vencimento em agosto, outubro e dezembro de 2020. É uma tentativa válida, mas que não impedirá novas desvalorizações na próxima semana. Em fevereiro, até o fim da sessão anterior, o dólar acumulou alta de 2,49%. A valorização da moeda americana no ano já é de quase 10%.
Assim como outras moedas de países emergentes, a desvalorização do real é um efeito dominó, cuja principal causa é o efeito do novo coronavírus (rebatizado de covid-19) sobre a economia chinesa. A doença, que já matou mais de duas mil pessoas mundo afora, fez com que com que a produção da indústria chinesa se arrefecesse. Com fábricas paradas e o surto espalhado pelas ruas do país asiático, estima-se que a China não consiga manter sua faixa de crescimento anual, em torno de 6%.
Além disso, os indicadores de crescimento abaixo do esperado divulgados no início deste ano também contribuem para a desventura do real frente à moeda americana. “O real só vai se recuperar de forma mais consistente quando a economia der sinais de recuperação no Brasil, com o avanço da agenda de privatização e a retomada do capital estrangeiro. Enquanto isso não acontece, o Banco Central tem de entrar com leilões para tentar conter essa situação”, alertou Pedro Galdi, analista de investimento da corretora Mirae Asset.
Em novembro, VEJA vaticinou o novo cenário e explicou as intenções do governo ao manter o dólar valorizado. O plano de Guedes é manter o dólar mais caro e a Selic mais baixa por um período longo. Isso vai estimular investimentos em infraestrutura e dar fôlego às indústrias exportadoras. Com esse arranjo, o governo pretende que os especuladores internacionais que hoje operam no mercado deem lugar a investidores interessados em aplicar recursos em infraestrutura, produção de bens e no setor de serviços. Os novos patamares, portanto, ao que parece, chegaram para ficar.