Uma espécie de anarcocapitalista-ultra-direitista, Javier Milei, representante do partido La Libertad Avanza (A Liberdade Avança), foi o mais votado nas eleições primárias na Argentina, no último domingo, 13, com 30% dos votos e ganha força para o pleito presidencial, marcado para 22 de outubro.
Milei surgiu como opção de voto de protesto na Argentina, que enfrenta uma inflação acumulada de 115,6% em 12 meses. Economista formado pela Universidade de Belgrano com dois mestrados na área, ele tem como agenda econômica abandonar o desvalorizado peso argentino e adotar o dólar como moeda oficial. Ele também diz que vai “dinamitar” o Banco Central e defende a privatização dos sistemas de saúde e educação e a redução da máquina pública. “Na prática a Argentina tem um problema fiscal bem grave, tendo apresentado déficit na balança de pagamentos em 90% dos anos no último século”, afirma Luan Alves, analista-chefe da VG Research.
A ideia de extinguir o Banco Central foi defendida pelo economista austríaco Friederich Hayek, considerado um dos pais do liberalismo, e é considerada controversa. Segundo ele, o papel-moeda é uma criação “horrível” do estado, responsável pelos ciclos econômicos, e que o mercado optaria, se pudesse, por uma commoditie, como ouro, para ser a moeda base de qualquer economia. Hayek propôs então que empresas individuais pudessem emitir moedas que não sejam lastreadas por qualquer capital. Seria o mesmo que privatizar a autoridade monetária. “Anarcocapitalismo é um vale-tudo, não funciona. É o extremo do liberalismo. Já imaginou como seria para a vida das pessoas se não houvesse regulação nos preços dos remédios?” alerta o economista Roberto Luís Troster.
Na área da saúde, Milei defende a criação de um “seguro universal”, em que os pacientes e os médicos acordam os honorários a pagar pelos serviços. No campo da educação, ele sugere uma modalidade de “vouchers”, em que a frequência escolar não será obrigatória nem gratuita.
Mas foi em em junho de 2022 que surgiram as ideias mais absurdas. O candidato afirmou que a venda de órgãos seria apenas “mais um mercado”, sugerindo que permitiria a liberação da venda de órgãos caso chegasse à presidência da Argentina. Questionado sobre a venda de crianças, ele respondeu que “depende”. “Talvez daqui a 200 anos isso possa ser debatido”, respondeu, em entrevista.
Mesmo com a vitória nas prévias, o caminho não está pavimentado para a vitória presidencial, em outubro. A segunda chapa mais votada foi de Patrícia Bullrich, que foi ministra da Segurança do ex-presidente Maurício Macri, com 28% dos votos. O candidato da situação, Sérgio Massa, atual ministro da Economia, ficou em terceiro, com 27%. “Se Milei for eleito ele não terá governabilidade, com minoria no Congresso. É um discurso sedutor, mas o que ele quer não se aplica”, diz Troster.