Do vermelho ao azul: por que uma vitória de Biden não assusta os mercados
Bolsas americanas fecham em alta de 2% e geram apetite global ao risco. Dólar, porto seguro dos investidores, cai com expectativa de maior estabilidade
Esta terça-feira, 3, dia dos americanos irem às urnas para escolher o próximo presidente dos Estados Unidos, foi de apetite ao risco para investidores em todo o mundo. Nos EUA, o índice Dow Jones fechou em 2,06%, enquanto o S&P 500 ficou em 1,71% e a Nasdaq, a bolsa de tecnologia, em 2,08%. Os investidores europeus tiveram o mesmo otimismo, mesmo com as altas recordes no número de infectados pelo novo coronavírus e as novas restrições sociais impostas em países como França, Alemanha e Espanha. O Euro Stoxx 600 fechou em alta de 2,27%, enquanto o índice DAX, da bolsa de Frankfurt, encerrou em alta de 2,55%. Os países asiáticos também seguiram essa tendência, com o índice Hang Seng, de Hong Kong, em alta de 1,96%, enquanto o Nikkei 225, do Japão, subiu 1,39%, e o CSI 300, da China, 1,20%. No Brasil, o Ibovespa fechou em alta de 2,49%, para 96.295 pontos, impulsionado pelo otimismo no mercado internacional.
Esse ânimo reflete uma expectativa do mercado sobre uma maior estabilidade após a divulgação dos resultados do pleito. As pesquisas apontam que o democrata Joe Biden pode ter uma vitória com ampla vantagem em relação ao republicano Donald Trump. Apesar de Trump ser bem quisto pelo mercado financeiro, a possibilidade de questionamento do resultado na Justiça vinha acirrando os ânimos e o desenho de uma vitória ampla do democrata diminui essa possibilidade. Logo, anima os mercados.
Há alguns meses das eleições nos Estados Unidos, a situação era diferente: o favoritismo do democrata Joe Biden impactava negativamente nos mercados devido ao seu posicionamento de aumentar os impostos às empresas, afinal Trump sempre foi o queridinho dos mercados por promover cortes nas taxas. Com a aproximação das eleições presidenciais e, principalmente, com a indefinição a respeito de um novo pacote de benefícios fiscais, no entanto, o jogo virou. A Covid-19 gerou uma crise financeira grave, cuja recuperação depende diretamente da renovação dos estímulos fiscais. “O investidor está otimista com a presidência democrata por mais que uma das pautas tenha um potencial de retirar o valor dos ativos, como o aumento dos impostos corporativos”, diz Alejandro Ortiz, analista da Guide Investimentos. “Além disso, se o Biden levar a Presidência e os democratas levarem as casas legislativas, a aprovação do novo pacote de estímulos acontece muito mais rápido”, diz ele.
Além do posto presidencial, essas eleições podem mudar a dinâmica nas casas legislativas. Hoje, o Senado americano é majoritariamente republicano e a Câmara dos Representantes é democrata, o que atravancou a aprovação de um novo pacote de incentivos fiscais, mais robusto, antes das eleições devido à disputa política. Nessas eleições, porém, há a probabilidade de o Senado ficar em sua maioria democrata. Nessa situação, caso o democrata Joe Biden também for eleito, ocorrerá a chamada “onda azul”, o que agrada os mercados, que estão ávidos por estabilidade e por uma rápida aprovação de mais incentivos fiscais.
A expectativa sobre a vitória de Biden, somada à maior busca por risco, também levou o dólar, o porto seguro dos investidores, a se desvalorizar nessa terça-feira, 3. O DXY, índice que mede a força da moeda americana em relação a uma cesta de moedas, principalmente o euro, caiu 0,70%. Em relação ao real, porém, a moeda americana seguiu o caminho contrário e se valorizou, fechando em alta de 0,41%, a 5,7612 reais. Por aqui, pesa o risco fiscal e os desentendimentos políticos a respeito de quem ficará à frente da Comissão Mista de Orçamento, o que mantém incertos os rumos que os gastos públicos terão no ano que vem.