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Depois de anos de crescimento, maré das empresas de tech mudou em 2022

Com a queda no valor de suas ações, elas foram obrigadas a demitir milhares de funcionários

Por Luisa Purchio Atualizado em 4 jun 2024, 10h54 - Publicado em 25 dez 2022, 08h00
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  • Habituados a índices de crescimento exponenciais e valorização correspondente de suas ações, os gigantes do Vale do Silício tiveram poucos motivos para comemorar em 2022. Até meados do ano anterior, os colossos da tecnologia haviam navegado com desenvoltura pela pandemia de Covid-19, quando o isolamento social em escala planetária multiplicou a demanda por seus serviços. Estrelas no mercado de capitais, aumentaram suas estruturas corporativas e a contratação de funcionários. Os ventos que impulsionavam a boa fase, entretanto, mudaram rapidamente.

    A Meta, que reúne Facebook, Instagram e WhatsApp, iniciou o ano na berlinda, acusada de estimular fake news e discursos de ódio em suas plataformas, e se tornou o melhor exemplo das agruras vividas pelo mundo tech. No terceiro trimestre, o lucro da empresa caiu 52% em relação ao mesmo período do ano passado e houve uma perda acumulada de 9,44 bilhões de dólares no Reality Labs, com a aposta do fundador Mark Zuckerberg na área de pesquisas de realidade virtual. E as perdas não param por aí: no acumulado do ano, o preço das ações caiu 63,8%, saindo do patamar dos 330 dólares no fim de 2021 para 120 dólares na primeira quinzena de dezembro deste ano. Já o valor de mercado, que chegou ao pico de 1,07 trilhão de dólares em agosto de 2021, despencou até bater em 302,5 bilhões de dólares no início de dezembro.

    Apesar de questões pontuais que atingem a empresa, como estagnação no número de usuários e perda de receita com publicidade, que podem até ser atribuídas ao fim da pandemia, a maré de pessimismo tem causas mais profundas e afeta o setor como um todo. A mais relevante advém, principalmente, da alta de juros nos Estados Unidos. Enquanto o ano de 2022 se iniciou com os juros da principal economia do mundo em zero por cento, o Federal Reserve decidiu por sucessivos aumentos e inicia 2023 a 4,25%. Com isso, o índice Nasdaq, a bolsa de valores de tecnologia dos Estados Unidos, amarga uma queda anual de 28,5%, após fechar o ano de 2021 com uma alta de 24%. Com juros mais altos, investidores tendem a abandonar aplicações de risco, como as das empresas de tecnologia, e buscar opções mais estáveis que passam a remunerar melhor os recursos investidos.

    No Brasil aconteceu fenômeno semelhante. Aproveitando o cenário de alta liquidez com os juros baixos praticados durante a pandemia para estimular a economia, muitas techs foram para a bolsa em 2021. A B3 viu um boom de IPOs de empresas com esse perfil. Em 2022, a migração do capital da renda variável para a renda fixa levou a uma redução do investimento em tais companhias, que perderam valor e passaram a reduzir despesas e cortar funcionários.

    Em escala global, apenas durante o mês de novembro, gigantes como Meta, Twitter e Amazon demitiram mais de 20 000 empregados como parte da estratégia de cortar custos. “Tomei a decisão de aumentar significativamente nossos investimentos. Infelizmente, as coisas não aconteceram da maneira que eu esperava”, disse Mark Zuckerberg, diretor-executivo da Meta, ao anunciar a demissão de mais de 10% dos funcionários. O mesmo cenário pessimista tomou o Twitter, que foi recentemente comprado por Elon Musk, cuja chegada à direção da companhia causa uma fuga de anunciantes e levou a demissões, em uma companhia que perde 4 milhões de dólares por dia. Um baque e tanto em um setor onde o dinheiro fluía com prodigalidade.

    Publicado em VEJA de 28 de dezembro de 2022, edição nº 2821

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