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Cresce procura por cursos de coaching, mas falta regulamentação

Segundo estimativa das entidades formadoras, há cerca de 40 mil coaches no Brasil, mas apenas 5% trabalham efetivamente nessa função

Por Mariana Lajolo
Atualizado em 7 fev 2018, 13h32 - Publicado em 9 dez 2017, 09h09
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  • Renata Bueno já era uma profissional reconhecida, referência no mercado de viagens e eventos e recebia um bom salário. Havia atingido o auge de sua carreira. Mas ainda não se sentia realizada. No ano passado, assistiu a duas palestras sobre coaching e vislumbrou naquela nova atividade seu futuro profissional. A conclusão foi ao mesmo tempo transformadora e assustadora: teria de recomeçar do zero, aos 36 anos.

    “Por mais que eu tivesse descoberto o que queria, iria me tornar uma empreendedora depois de quase 20 anos no mundo corporativo”, relembra ela, que recorreu a um coach da empresa em que trabalhava durante o processo. “Eu fiz para conhecer, já que iria trabalhar com aquilo, e me ajudou muito a dar os passos necessários e fazer minha transição de carreira.”

    Assim como Renata, hoje com 37 anos, milhares de brasileiros têm entrado em contato com o mundo do coaching nos últimos anos, seja em busca de ajuda seja para iniciar uma nova atividade. Segundo profissionais experientes da área, estamos no meio de um boom desse mercado. Mas, ao mesmo tempo em que festejam a atenção, eles ressaltam que ainda ainda há muitas dúvidas sobre o trabalho de coaching. Além disso, a profissão não é regulamentada e não existe fiscalização da maioria dos cursos de formação.

    O Brasil não tem números oficiais sobre a quantidade de coaches no país, mas eles não param de crescer. Em algumas escolas, a procura subiu 100% em 2016 em relação ao ano anterior. O IBC (Instituto Brasileiro de Coaching), por exemplo, formou 20 mil pessoas nos últimos dez anos. Em 2016, a Sociedade Latino-Americana deu certificados a 6.000 alunos.

    O coach trabalha para ajudar seu cliente a aumentar o auto-conhecimento, enxergar os problemas de outra forma, questionar-se, rever padrões e aprimorar comportamentos. A forma mais conhecida é a que aborda questões profissionais, mas existem coaches que trabalham assuntos pessoais, como relacionamentos e até perda de peso.

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    As entidades formadoras falam em cerca de 40 mil coaches no Brasil, mas estimam que apenas 5% deles trabalhem efetivamente com isso. Os valores das sessões podem variar de zero, para quem está em início de carreira e precisa se desenvolver, até mais de 3.000 reais para aqueles atuam com CEOs de grandes empresas, uma minoria.

    O site da Catho, que reúne ofertas de vagas de trabalho em todo o país, tem como média de oferta de salário de 2.086,51 reais para coaches. “É uma atividade que proliferou no mercado, o que estimulou a oferta de um sem número de fornecedores de cursos breves, que se utilizam de técnicas de venda agressivos. Não há fiscalização, o que abre espaço para abusos”, diz Liana Gus Gomes, presidente da Abracem (Associação Brasileira de Coaching Executivo).

    Segundo a legislação, cursos livres não precisam de reconhecimento ou autorização do MEC (Ministério da Educação). As empresas funcionam sob vigência dos órgãos de defesa do consumidor. Já para graduação, pós ou especialização é necessário que a instituição seja credenciada no Sistema Federal de Ensino – muitas escolas de coaching possuem parcerias com faculdades e outras entidades educacionais registradas.

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    Renata Bueno já fez cinco cursos em um ano, cobra 3.800 reais por “processo” (dez sessões de até duas horas cada on-line) e já acumula cerca de 600 horas de atendimentos. Ela mesma voltou a recorrer ao coaching para conseguir caminhar na nova profissão. “Depois de uns meses, começou a dar aquela insegurança. E mesmo sendo coach, a gente não se pergunta muitas coisas. Esse segundo processo foi para resgatar minha auto-confiança. Foi sensacional”, afirma.

    Nem sempre é satisfatório

    ,A experiência, no entanto, nem sempre é satisfatória. E casos como o da médica gastroenterologista Debora Poli 41, mostram que há muitas empresas oferecendo serviços que não refletem o que deveria ser o trabalho de coaching. Poucos meses após dar à luz o filho mais novo, Nicholas, hoje com três anos, ela começou a se questionar sobre como continuar ativa na profissão e ainda ter mais tempo com a família – é mãe também de Thomas, 5.

    Nessa época, recebeu a ligação de uma empresa oferecendo serviços de coaching para melhorar seu autoconhecimento e de head-hunter, com vistas a aumentar sua cartela de clientes. Vislumbrou, ali, a chance de repensar e transformar seu trabalho.

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    “Me venderam uma coisa, mas eu apenas preenchi uns questionários e recebi um relatório que chegava a conclusões que eu já sabia. Foi interessante ter aquilo por escrito, mas não foi um trabalho aprofundado. E cerca de um ano depois ainda me ligaram oferecendo a mesma coisa de novo. Me arrependi de ter feito e não procuraria novamente”, diz.

    Segundo, Marcus Marques, diretor-executuvo do IBC, o trabalho de coaching deve atuar de acordo com as especificidades de cada cliente. “O processo visa trabalhar aspectos comportamentais focados no objetivo específico da pessoa. Trata-se de um trabalho individual e totalmente personalizado”, ressalta.

    Decepções como a vivida por Debora têm sido mais recorrentes com o boom do mercado e muita propaganda de soluções rápidas para todos os problemas. “Não vendemos uma fórmula mágica. Coaching é um aprendizado, uma metodologia que trabalha o desenvolvimento pessoal e profissional de cada indivíduo”, Sulivan França, presidente da Sociedade Latino-Americana. “Existem pessoas, por exemplo, ensinando hipnose e programação neurolinguística dizendo que é coaching. A falta de regulamentação traz isso. E atrapalha muito.”

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    Luciano Lannes, que edita a revista “Coaching Brasil”, ressalta que a ideia de resultados rápidos e encontro fácil da felicidade contrariam até o que é um real processo de autoconhecimento. “Quando se fala em desenvolvimento humano, não dá para pular todo um processo de investimento de força, disciplina, investigação. E em qualquer processo de mudança pessoal mais profunda vai haver dor”, diz. “E em muitos casos ele pode esbarrar em questões que estão além da atuação do coach e talvez seja aconselhável procurar um psicoterapeuta.”

    Debora Poli
    Debora recorreu ao coahing após a gravidez (Ricardo Matsukawa/VEJA.com)

     

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