Mesmo que você torça o nariz quando o assunto é variação cambial, mercado de commodities e cenário macroeconômico, essas variáveis fizeram parte importante do seu dia a dia em 2020. Isso porque esses fatores foram primordiais para a inflação em 2020, refletida principalmente na alta dos alimentos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA-15, a prévia da inflação, fechou o ano em 4,23%, acima da meta do IPCA para o ano, de 4%, e a maior desde 2016. O item que mais subiu, o óleo de soja, é um exemplo perfeito dessa conjuntura. Os dados foram divulgados nesta terça-feira, 22
Utilizado para o preparo de alimentos, o item é um derivado da soja. Essa commoditie, da qual o Brasil é um dos maiores produtores, se valorizou mais de 20% em dólar no mercado internacional. E, com a desvalorização do real em relação ao dólar, o aumento de preços para o Brasil é ainda maior. A crise do novo coronavírus, que ditou os rumos de quase todas as variáveis de 2020 têm grande influência em todo esse cenário. Isso porque houve um aumento global da demanda por alimentos e o dólar, porto seguro dos investidores em tempos de crise, subiu em relação ao real. Até novembro, por exemplo, o real se desvalorizou 35% em relação à moeda americana, utilizada nas transações internacionais. Quando o ano começou, cada dólar valia 4,023 reais. Nessa terça, o dólar está cotado a 5,163 reais.
André Braz, economista do IBRE da FGV, afirma que a inflação dos alimentos pode ser creditada a uma ‘tempestade perfeita’, tanto trazida pelo coronavírus como fatores sazonais. Porém, o peso do dólar, é o fiel da balança nessa equação. “Com a desvalorização do real em relação ao dólar, se amplia as exportações, pois os preços do Brasil ficam mais interessantes. Há uma mudança na estrutura do custo. As commodities ficam mais caras, as carnes ficam mais caras, já que a ração para engordar um boi, frango ou porco está mais cara, aumentando o preço desses alimentos”. Braz, salienta que, além do dólar, o auxílio emergencial, a mudança de padrão de consumo trazida pela Covid-19 e fatores sazonais como queimadas no inverno, influenciaram nos preços.
Dos 15 itens que mais subiram no IPCA 15, todos são alimentos. Tomate, com alta de 74% e o arroz (72%) completam o pódio dos vilões da inflação.
Futuro
O efeito da inflação deste ano é visto como temporário tanto pelo Ministério da Economia quanto pelo Banco Central, que creditam grande parte da alta dos preços ao auxílio emergencial. Com o fim do voucher em 2021, já que até o momento não há previsão para a extensão, a demanda tende a diminuir no início do ano, arrefecendo um pouco da pressão dos alimentos. Braz, entretanto, ressalta que a retomada econômica prevista para o próximo ano a partir da vacinação da população, deve difundir a alta dos preços para outros setores, fazendo com que a pressão dos alimentos seja menor, mas não necessariamente haja uma grande queda na inflação. “A inflação teve algumas âncoras este ano, como serviços, preços administrados e bens. Muitos segmentos que não repassaram pressão inflacionária neste ano, devem fazer isso na retomada”.
Para o ano que vem, a previsão do mercado financeiro é que a inflação fique por volta de 3,4%, abaixo do centro da meta do governo, que é de 3,75%.