Como a China acaba ajudando nos planos de Bolsonaro
Dados de desaceleração na economia chinesa estão aliviando o preços das commodities no mercado internacional
A Petrobras anunciou nesta segunda-feira, 15, uma redução de 4,85% no preço da gasolina. Esse é o quinto movimento de baixa nos combustíveis e o terceiro em um mês. Os cortes estão relacionados com a queda do preço do barril no mercado internacional que tem precificado uma recessão global no radar e os dados de desaceleração da economia chinesa.
Os principais índices de atividade de produção industrial, vendas no varejo e investimento em ativos fixos (de construção) da China vieram abaixo do esperado, refletindo o resultado das políticas contracionistas que estão sendo adotadas ao redor do mundo e da rigidez no controle da Covid-19 no país, que acaba de sair de um grande lockdown para controlar a doença. Os dados de desaceleração do gigante asiático estão ajudando a derrubar o preço das commodities, como os combustíveis, que foram os grandes vilãos da inflação nos últimos anos. “O corte é condizente com o movimento de queda dos preços de petróleo e câmbio verificados ao longo das últimas semanas”, diz Pedro Serra, analista da Ativa Investimentos.
Estados Unidos e Europa, por exemplo, passaram a conviver com índices de inflação não vivenciadas há décadas. No Brasil, a inflação acumula alta de 10,07% em doze meses e deve encerrar o ano em 7,02%, segundo projeções do mercado. A alta dos preços dos combustíveis no Brasil gerou um verdadeiro cabo de guerra entre o governo Bolsonaro e a Petrobras nos últimos meses com diversas trocas na presidência da companhia. Sem conseguir a interferência desejada, o governo articulou a redução do imposto sobre os combustíveis, o ICMS. A medida em vigor há quase dois meses gerou um alívio nos preços, mas segundo especialistas a medida isolada não seria suficiente para reduzir o preço aos níveis atuais.
A nova redução de 4,8% representa um corte de quase 20 centavos no preço da gasolina e veio dentro do esperado pelo mercado, que avalia ainda espaço para maiores quedas se o real continuar valorizado frente ao dólar. “A Petrobras está seguindo a sua política de preços, acompanhando os preços praticados no mercado internacional, como era esperado. Essas reduções não tem a ver com a mudança na direção, não são políticas. O que está acontecendo é uma tempestade perfeita, no bom sentido. O governo está dando sorte de as commodities estarem baixando em pleno ano eleitoral”, diz Adriano Pires, economista especialista em petróleo que quase presidiu a Petrobras. Segundo Pires, esse elemento sorte do governo pode ser revertido se houver alguma escalada de tensões entre Rússia e Ucrânia ou pelo fator cambial. Nesse último caso, o próprio governo pode acabar com essa vantagem devido aos riscos fiscais gerados com as medidas que ampliaram os benefícios sociais e estourando novamente o teto de gastos.