As incertezas sobre o futuro do país após a crise política deflagrada pelas delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista, donos da JBS, começam a afetar as previsões sobre os rumos da economia. O Itaú Unibanco alterou sua projeção para a taxa Selic de corte de 1,25 para 1 ponto porcentual na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) que acontece na semana que vem. A instituição também modificou a expectativa para o nível dos juros no fim deste ano de 7,50% para 8,0%.
Em relatório, o economista-chefe Mario Mesquita cita que por causa do expressivo aumento da incerteza quanto à aprovação das reformas espera declínio dos juros para 10,25% neste encontro, a despeito do ambiente favorável para inflação, expectativas ancoradas e atividade fraca.
“A decisão do comitê está sujeita a novos acontecimentos no âmbito político, que afetam preços de ativos e a trajetória prospectiva da inflação. Em particular, se até a data da reunião observarmos novos eventos que piorem a perspectiva de aprovação de reformas e elevem os prêmios de risco sobre ativos brasileiros, não se pode descartar uma redução moderada do ritmo de corte de juros, embora este não seja nosso cenário base”, explica.
Na avaliação do banco, o nível da taxa Selic ao final do ciclo de corte de juros dependerá crucialmente da evolução da atual situação política e do impacto nas perspectivas de aprovação das reformas econômicas. Em um cenário político mais adverso que leve a um adiamento prolongado das reformas, o Itaú estima que o ciclo de corte de juros pode ser encurtado, mas a taxa Selic ainda cairia para um dígito.
A instituição espera que o Copom sinalize que a extensão do ciclo de flexibilização monetária e o ritmo do mesmo dependerão das projeções e expectativas de inflação e de fatores de riscos associados ao cenário – inclusive fatores não econômicos. “Com isso, o Comitê deve deixar em aberto as perspectivas quanto aos próximos passos da política monetária neste momento de alta incerteza”, estima.
O banco estima que as projeções para inflação do Banco Central para 2017 e 2018 poderão sofrer um leve recuo em 2017 e 2018. Na percepção do Itaú, o aumento de incerteza decorrente dos eventos políticos recentes representa um choque com efeito potencialmente recessivo e também inflacionário para a economia brasileira.
“O potencial impacto negativo do choque sobre a atividade econômica virá de um eventual aumento da cautela dos agentes econômicos. Por sua vez, o potencial efeito inflacionário do choque só será significativo se houver uma depreciação cambial mais intensa e persistente do que a ocorrida até agora. Dado o efeito ainda incerto do choque atual, o cenário base permanece de atividade econômica fraca e desinflação. Esse cenário justifica a continuação do ciclo de afrouxamento monetário”, avalia.
Diante do aumento de incerteza decorrente dos eventos políticos recentes, a análise da comunicação do Banco Central deve ser observada em momentos distintos, conforme o Itaú.
(Com Estadão Conteúdo)