Objeto de obsessão do presidente Jair Bolsonaro no tratamento do coronavírus (Covid-19), em detrimento ao avanço das pesquisas, a cloroquina virou uma preocupação dentro de setores técnicos do governo. Com o temor de que a defesa apaixonada do presidente pela substância provoque a escassez do princípio ativo, o secretário de Desenvolvimento, Gustavo Leipnitz, indagou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), sobre a quantidade de cloroquina no país. A resposta é ainda mais preocupante: a agência não sabe a quantidade do medicamento produzida ou em estoque no Brasil. Em ofício enviado ao Ministério da Economia no último dia 6, o gabinete do presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, informou que a droga não estava sujeita a mecanismos de controle e, por isso, não havia informação disponível em relação ao estoque. “A Anvisa não detém informações quanto aos estoques desses produtos”, informa. Assim, a pasta caminha no escuro para estabelecer políticas públicas que garantam o fornecimento da substância que vem sendo tratada como uma panaceia no combate ao vírus.
O documento encaminhado à secretaria, porém, atesta que a Anvisa está “em constante diálogo com os laboratórios fabricantes de medicamentos à base de cloroquina e hidroxicloroquina e está monitorando qualquer ação sanitária que possa ser tomada rapidamente para que as empresas mantenham a fabricação de seus medicamentos”. A venda do medicamento em farmácias passou a ser controlado por determinação da Anvisa no dia 20 de março. Antes disso, o medicamento era comercializado sem prescrição médica. A agência informou ainda ao Ministério da Economia que está realizando o levantamento de dados sobre a comercialização do remédio.
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Clique e AssineSegundo um relatório preliminar enviado à pasta, há pelo menos sete laboratórios que produzem medicamentos com base em cloroquina no país. Os laboratórios informaram à agência a dificuldade de se produzir o medicamento: pela alta demanda; pela ausência de embalagem; e pela dificuldade logística. O Laboratório Químico e Farmacêutico do Exército diz que possui insumos suficientes para a produção de 250 mil comprimidos, mas que não tem material para produzir as embalagens. A Fundação Oswaldo Cruz alegou que a matéria-prima que possui é suficiente para produzir até 4 milhões de comprimidos, com entrega viável aos hospitais e farmácias, porém, apenas em 30 dias após o pedido.
Apesar de afirmar que não possui um balanço completo sobre a quantidade do medicamento no Brasil, a Anvisa enviou uma estimativa: cerca de 8 milhões de compridos à disposição no Brasil. Em nenhum momento ela atesta se isso é suficiente ou não para suprir a alta demanda pela substância. As indicações de tratamento previstos pela própria agência apontam que o medicamento é utilizado para o tratamento de doenças como reumatismo e problemas de pele, artrite, lúpus, malária e alterações dermatológicas provocadas ou agravadas pela exposição à luz solar. A Anvisa atesta, no mesmo documento, que os autores de pesquisas realizadas na China apresentaram bons resultados no tratamento da doença, mas que pelo “pequeno tamanho amostral”, já que a pesquisa foi realizada com apenas 20 pacientes, ainda é “necessário conduzir estudos clínicos em uma amostra representativa de seres humanos” para o tratamento da Covid-19, “demonstrando a segurança e a eficácia para o uso pretendido”.