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Cinema completa 125 anos em cenário inédito e inóspito

Pandemia embaralhou a guerra das janelas de exibição; “Mulher Maravilha 1984” estreou no Natal no streaming, em derrota da indústria criada pelos Lumière

Por Carlos Valim Atualizado em 28 dez 2020, 23h06 - Publicado em 28 dez 2020, 16h54
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  • A data de hoje marca os 125 anos do dia que irmãos franceses Lumière, industriais de Lyon, apresentaram, pela primeira vez, em uma sessão pública os filmes criados pelo cinematógrafo, a máquina que filmava imagens em movimento e também as projetava — de preferência, numa sala escura. A histórica sessão aconteceu no dia 28 de dezembro de 1895, no café que havia no número 14 do Boulevard des Capucines, em Paris, próximo da Ópera Garnier, com a exibição de dez filmes curtos. Outros pioneiros, como o francês radicado em terras inglesas Louis Le Prince, que desapareceu misteriosamente, e a equipe de inventores do americano Thomas Edison, já tinham criado câmeras anteriores, mas não encontraram uma forma de exibição tão eficiente. Os próprios Lumière já tinha apresentado a sua invenção duas vezes, em março e em junho de 1895, em sessões para inventores e cientistas. Mas foi a data de 28 de dezembro que passou para a história — apesar de historiadores alemães defenderem, com razão, que os irmãos Skladanowsky já tinham apresentado publicamente filmes no dia 1 de novembro do mesmo ano e ainda exista os defensores do empresário americano Woodville Latham, que organizou uma exibição pública já em 20 de maio.

    O fato é que, independentemente das disputas históricas que lembram as pelo título de inventor dos aviões, o impacto maior foi causado pelos irmão Lumière. É isso que garantiria ser hoje um dia de grandes comemorações para a indústria cinematográfica. Afinal, é difícil imaginar atualmente, no mundo dos vídeos de Tik Tok, dos youtubbers e dos registros fáceis da vida cotidiana, uma época anterior à existência de máquinas capazes de captar e transmitir a realidade em movimento. E toda essa evolução passa pelas salas de cinema e pela evolução das câmeras que produzem os filmes que as gerações dos últimos 125 anos viram nas grandes telas. Mas a efeméride traz mais preocupações do que motivos para festas. Em 2020, os exibidores cinematográficos enfrentam não só uma crise sem precedentes, causada pelo fechamento das salas por todo o mundo, como uma revolução nas estratégias de lançamento de filmes acelerada pela pandemia da Covid-19.

    No dia de Natal deste ano, a Warner Bros. lançou simultaneamente, nas salas americanas e no serviço de streaming HBO Max, provavelmente o filme de maior potencial de bilheteria do ano, Mulher Maravilha 1984. Era um produto que os exibidores esperavam ansiosamente há mais de um ano e que teve a sua data de chegada aos cinemas remarcada três vezes. A estratégia embola mais a disputa, entre os diversos elos da cadeia, em relação à política de janelas de exibição. Desde o advento da televisão, foi estabelecida uma ordem de chegada dos filmes, que foi se complicando e se sofisticando com o aparecimento dos VHS, dos DVDs, das telas em aviões comerciais e da tevê por assinatura. Com a explosão do streaming, a disputa política e comercial se intensificou contra os donos de cinemas. E, na pandemia, os concorrentes conseguiram dar um golpe que os exibidores de salas físicas podem não conseguir reverter depois da vacinação em massa.

    Além do acordo entre a Warner e HBO, outro marco recente deste novo momento foi o lançamento para aluguel do filme Mulan, da Disney, em sua nova plataforma Disney+, sem antes ele passar pelos cinemas. Podem parecer casos pontuais, mas acordos assinados nas últimas semanas indicam que a batalha pelas janelas atravessa um ponto de virada. A Universal fechou com as poderosas redes exibidoras AMC e Cinemark que os seus lançamentos poderão chegar a vídeo sob demanda pago apenas 17 dias depois de estrearem nos cinemas. Anteriormente, a janela era de 90 dias.

    A expectativa é que os filmes adiados este ano retomem o fôlego do negócio de salas de cinema em 2021. A lista é imensa e promissora, incluindo “007: Sem Tempo para Morrer”, a refilmagem de “West Side Story” por Steven Spielberg, “Viúva Negra”(Marvel/Disney), o novo “Matrix” (Warner) e “Top Gun: Maverick” (Paramount). Pode ser a chance de retomar um pouco do terreno perdido para os streamings. Por tudo isso, talvez poucos setores da economia aguardam tão ansiosamente pela vacina quanto o dos exibidores de cinema.

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