A China anunciou nesta sexta-feira, 23, tarifas em retaliação aos Estados Unidos com alíquotas adicionais entre 5% e 10% sobre mais 75 bilhões de dólares em bens americanos. Segundo comunicado divulgado pelo Conselho de Estado, as tarifas serão implementadas em dois lotes, em 1º de setembro e 15 de dezembro. A notícia estressou mercados, com o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, caindo 0,3% às 11h40. O tombo só não é maior, porque vieram indicações sobre novos cortes de juros nos Estados Unidos. No mesmo horário, o dólar comercial, que chegou a bater 4,09 reais na venda, estava estável a 4,08 reais.
Ao todo, 5.078 bens originários dos Estados Unidos serão taxados adicionalmente, incluindo produtos agrícolas, petróleo e aviões de pequeno porte. A China também está retomando as tarifas sobre carros e autopeças originárias dos EUA.
A medida é uma resposta ao anúncio do governo americano de que vai impor tarifas de 10% sobre 300 bilhões de dólares em bens chineses, feito no início de agosto. Assim como os chineses, os americanos vão aplicar parte das tarifas a partir de setembro e outra em dezembro. Segundo o governo chinês, essa é “uma medida forçada para lidar com o unilateralismo e o protecionismo comercial dos EUA”, diz o Conselho de Estado. “A cooperação é a única escolha correta, e uma situação ganha-ganha pode levar a um futuro melhor”, acrescenta o texto.
Representantes do governo da China já vinham dizendo que o país iria retaliar. As novas tarifas dos Estados Unidos foram anunciadas no dia 1° de agosto, um dia depois de representantes dos dois países terem se reunido para negociar um acordo, depois de meses sem contato entre as duas nações. Na semana seguinte, a moeda chinesa, normalmente com algum tipo de controle do Estado, desvalorizou para seu menor patamar em nove anos. A medida foi interpretada como uma retaliação já que, assim, os produtos do país asiático ficariam mais competitivos do que os americanos no mercado internacional.
Frente a uma tensão global por medo de uma guerra cambial, Trump voltou atrás e adiou parte das tarifas, que inicialmente entrariam em vigor em setembro, para dezembro. O governo chinês recuou na desvalorização de sua moeda, mas avisou que ainda assim iria retaliar, já que as taxas ainda entrariam em vigor de qualquer modo. O que de fato fez.
Mercados
O dia já era esperado pelos investidores. Hoje o presidente do Federal Reserve (Fed, o BC dos Estados Unidos, discursou na tradicional reunião anual dos BCs dos Estados Unidos, em Jackson Hole, no estado de Wyoming. Na quarta, foi divulgada a ata da reunião do Fomc (Comitê Federal de Mercado Aberto), órgão de política monetária do Fed, que definiu o corte da taxa de juros de 0,25 ponto percentual, em julho, o primeiro em uma década — mesmo assim, o movimento foi considerado insuficiente pelos investidores.
Powell disse que a economia dos Estados Unidos está em uma “posição favorável” e o Federal Reserve irá “agir conforme apropriado” para manter seu ritmo de expansão. Para Pablo Spyer, diretor da corretora Mirae Asset, Powell disse o básico que os investidores queriam ouvir. “Caiu bem para o mercado”, afirma ele.
O discurso ajudou a segurar a queda dos mercados pelo mundo, devido às tarifas chinesas. Mas, para o analista, não deve ser o suficiente. “O assunto da China pesou muito mais do que a fala do Jerome Powell, por mais que fosse o assunto mais esperado da semana”, diz. “A tendência é realização de lucros nos mercados hoje”, acrescenta Spyer. Nos Estados Unidos, o Nasdaq caía 0,24% e o Dow Jones 0,13%. às 11h40.
Pelo Twitter, Trump reagiu ao discurso de Powell. “Como sempre, o Fed não fez nada”. É incrível que eles “falem” sem saber ou perguntar o que estou fazendo, o que será anunciado em breve. Temos um dólar muito forte e um Fed muito fraco. Eu vou trabalhar brilhantemente com os dois e os Estados Unidos vão conseguir…minha única questão é, quem é nosso maior inimigo, Jay Powell ou Xi (em referência a Xi Jinping, presidente da China)”, afirmou ele.
A disputa comercial entre China e Estados Unidos
A tensão comercial entre China e Estados Unidos começou em meados de 2018. Trump foi eleito com uma bandeira forte contra os produtos “made in China”, acusando o país asiático de prejudicar a indústria nacional e gerar desemprego. O ápice ocorreu quando o presidente anunciou tarifas de 25% sobre 50 bilhões de dólares de alta tecnologia chineses e 10% sobre 200 bilhões de dólares de outras mercadorias, em março do ano passado.
Houve retaliação chinesa e a partir de então os dois países iniciaram uma queda de braço que, por envolver as duas maiores potências econômicas do globo, passou a gerar consequências em todo o mundo. A situação esfriou no fim de 2018, com o início de negociações para uma trégua.
Quando a guerra comercial parecia perto de uma solução, Trump anunciou em maio deste ano a elevação de 10% para 25% das tarifas sobre produtos de alta tecnologia chineses. O motivo, segundo o presidente, foi o fato da China ter supostamente quebrado o acordo comercial que os dois países estavam negociando. A medida teve retaliação chinesa poucos dias depois, com aumento das tarifas a produtos dos Estados Unidos, estimados em 60 bilhões de dólares.
Seguiu-se um período maior de tensão, até que, durante o G-20, foi anunciada uma trégua e o reinício das negociações para um acordo. Dias depois, Trump anunciou novas tarifas, o que gerou a volta da tensão a partir de agosto.