A ineficiência dos governos federal, estaduais e municipais na gestão das finanças públicas, o baixo investimento em políticas educacionais, pesquisa e inovação, e uma piora nas práticas gerenciais das empresas fazem com que o Brasil figure entre os quatro países menos competitivos em 2018.
O resultado faz parte do Anuário de Competitividade Mundial 2017, estudo que avalia o desempenho da economia de 63 nações no mundo, publicado desde 1988 pelo International Instituto for Management Development, em parceria com a Fundação Dom Cabral (FDC).
Em 2018, o Brasil subiu uma posição: da 61ª posição para a 60ª, ficando à frente apenas da Croácia, Mongólia e Venezuela. O ambiente de alta turbulência política no país no último ano e a proximidade de uma eleição, aliado à falta de reformas estruturais que corrijam a elevada trajetória do déficit fiscal público e diminuam o desemprego, são apontados pelos autores do estudo como os principais fatores que fizeram o Brasil perder oportunidades para avançar nos rankings globais de competitividade neste ano.
“A grande barreira para o avanço da eficiência de governo é, possivelmente, a falta de continuidade e a integração das diferentes iniciativas”, afirma Ana Burcharth, professora do núcleo de inovação e empreendedorismo da FDC. “É necessária uma estratégia de país implementada de forma comprometida em ciclos longos de transformação envolvendo não apenas os poderes executivos e legislativo, mas também o poder judiciário, as empresas e a sociedade civil”, defende.
O estudo mostra que, nesse ambiente político turbulento, o foco do governo se volta para as decisões e manobras judiciais e para as denúncias sobre corrupção. As reformas necessárias como no sistema previdenciário foram adiadas e as ações firmes de controle dos gastos públicos e investimentos estruturais ficaram para o próximo governo. Os destaques no ano foram a reforma trabalhista, que ainda não resultou em impactos positivos, e a confiança da comunidade empresarial nas decisões de corte de juros tomadas pelo Banco Central.
A metodologia de avaliação da competitividade dos países analisa quatro fatores: performance econômica, eficiência do governo, eficiência empresarial e infraestrutura. Junto, eles agrupam 340 variáveis qualitativas e quantitativas. No Brasil, as pesquisas de opinião são realizadas pela FDC com mais de 5.000 executivos e empreendedores entre os meses de janeiro e abril de cada ano.
Quando avaliada a eficiência empresarial, o fator mais crítico fica para a queda de 28 posições na rapidez das companhias (48ª posição) e de quinze posições na habilidade dos conselhos corporativos em administrar efetivamente suas firmas (ocupando a 51ª).
Por outro lado, ao longo das últimas trinta edições do estudo, o país tem se mostrado mais competitivo nos indicadores de eficiência empresarial (50ª posição em 2018) do que nos indicadores de eficiência do governo (62ª posição em 2018). Os autores do estudo apontam que essa característica é disfuncional tendo em vista a definição de competitividade adotada pelo IMD e pela FDC, que são as condições que um país oferece para que suas empresas sejam capazes de competir internacionalmente.
O sistema educacional do país, por sua vez, se apresenta como um dos menos eficientes do mundo. Neste quesito, o Brasil ocupa apenas a 60ª posição, destacando o baixo investimento em habilidades digitais e tecnológicas e o ensino de ciência nas escolas. “Enquanto a educação não for prioridade, ficaremos presos à armadilha do longo prazo. Precisamos investir nas novas gerações para que deixemos de ser um país de renda média”, afirma Ana Burcharth.
Já o setor Desempenho da Economia voltou a apresentar uma melhora de cinco posições em 2018, após pioras gradativas entre os anos de 2011 e 2017. O resultado reflete uma melhora da percepção dos analistas e executivos com o futuro da economia doméstica brasileira – projetando crescimento do PIB para 2018 -, e uma diminuição dos preços e do custo de vida, ocasionado pela inflação de 2,95% em 2017, a mais baixa desde 1998.
Um dos fatores que caracterizam positivamente a competitividade brasileira em 2018, de acordo com os entrevistados, continua sendo a sua capacidade de atrair a atenção de investidores estrangeiros. Visto pelos entrevistados como uma economia dinâmica com grande potencial de retorno – seja pelo tamanho do mercado doméstico, seja pelo potencial de influência regional – o subfator ‘Investimento Internacional’ tem se mantido estável.
Com um volume de investimentos diretos em 2017, acima de 70 bilhões de dólares (7º no ranking em 2018), o país acumula reservas de investimentos diretos acima de 625 bilhões de dólares (12º no ranking deste ano).
O aparente otimismo, entretanto, tem seus limites. Os empreendedores e executivos entrevistados pela pesquisa continuam preocupados com as perspectivas para o desemprego, o balanço da conta-corrente e a trajetória da inflação até o fim deste ano.
“A eficiência do governo é o nosso calcanhar de aquiles. Corrigir isso não depende só das autoridades da União, Estados e municípios. Precisamos envolver a comunidade empresarial e a sociedade civil, para criarmos uma agenda de país. Melhorar a competitividade em tantos setores diferentes não deve ser uma agenda de governo, tem que ser uma política de Estado”, afirma Ana Burcharth.