O mercado financeiro é um eterno insatisfeito. Os futuros das bolsas americanas derretem nesta sexta-feira, 2, em uma reação dos investidores à possibilidade de que o Fed demorará demais a começar a cortar juros nos Estados Unidos.
Na quarta, o BC americano finalmente confirmou as apostas de que a taxa básica americana pode começar a cair em setembro, exatamente como o mercado financeiro vinha esperando. Mas, na noite de ontem, Apple e Amazon divulgaram seus resultados referentes ao segundo trimestre.
A Apple lucrou US$ 21,5 bilhões no trimestre, alta de 8% na comparação com igual período do ano anterior. Na Amazon, o lucro quase dobrou, para US$ 13,5 bilhões. Ainda assim, investidores não estão confiantes.
Acontece que a varejista de Jeff Bezzos diminuiu suas projeções de crescimento para o ano, enquanto a Apple, apesar do resultado robusto, continua de alguma maneira com as vendas ameaçadas pela desaceleração da economia chinesas.
Aqui o Fed e as big techs se conectam. A avaliação de investidores é de que essa demora em cortar os juros tenha esfriado demais a economia e, por consequência, pesará nos lucros futuros das companhias.
Nesta sexta, os EUA divulgam o payroll, o dado oficial de desemprego do país. Após um longo período de juros altos, os dados de aberturas de vagas começam a encolher. Justamente porque o mercado de trabalho está esfriando é por que o Fed entende que, agora, dá pra pensar em cortar os juros. Talvez tarde demais.
Isso somado aos pesados investimentos feitos pelas big techs em inteligência artificial, um desembolso feito para o longo prazo. Só que a turma de Wall Street tende a querer retorno rápido e detesta não ter certeza de que o dinheiro colocado em IA vai mesmo ser lucrativo. Para ser lucrativo, é preciso cobrar pelo serviço. E as pessoas precisam ter dinheiro para pagar por ele.
Aí, com investimentos na lua e previsões de crescimento mais modestas, as ações entraram numa liquidação nesta sexta-feira. Os papéis da Amazon caem mais de 8% no pré-mercado. A Apple chegou a ceder, mas virou para o positivo.
Os futuros do S&P 500 cedem 1,27%. O tombo do Nasdaq beira os 2%. Nas bolsas europeias, as baixas também são expressivas. Mas nada se compara a Tóquio: o índice Nikkei recuou quase 6%, maior tombo desde a eclosão da Covid.
O EWZ vai caindo quase 1% no pré-mercado e há risco de nova escalada do dólar, que ganha força ante moedas mais fracas. No Brasil, a agenda é fraca. O dado mais relevante é de produção industrial. Em resumo, há pouco que a Faria Lima possa fazer para escapar da liquidação instalada nos mercados financeiros globais