A ideologia pode custar caro. No caso do governo de Jair Bolsonaro e sua fixação pela chamada caixa-preta do BNDES, 24 milhões de reais. O montante foi o incremento de uma auditoria contratada pelo Banco Nacional do Desenvolvimento feito durante as gestões de Joaquim Levy e Gustavo Montezano, já sob a gestão de Bolsonaro. Desde a campanha, o agora presidente insistia em um pacote de conluios e dinheirama instalada no coração do banco, que corroboraria com falcatruas firmadas pelo BNDES em contratos com o clube de alçados a campeões nacionais durante os governos dos petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Como revelou o jornal O Estado de São Paulo na terça-feira 21, o banco contratou o escritório estadunidense Cleary Gottlieb Steen & Hamilton para realizar um pente-fino nos contratos firmados com a J&F, empresa comandada outrora pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, que sustenta em seu guarda-chuva marcas como o frigorífico JBS e a Alpargatas, que produz calçados. Indagado sobre o tema durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, o atual presidente do banco, Gustavo Montezano, respondeu que o contrato foi firmado durante a gestão do ex-presidente Michel Temer — portanto, longe de sua alçada. O calendário de Montezano está atualizado, é verdade. Mas Montezano escondeu o principal ponto da questão.
Firmado em 2017 pelo então presidente Paulo Rabello de Castro, o contrato para a realização de uma auditoria foi orçado em cerca de 12 milhões de reais. O pedido foi feito pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos, na apuração de trambiques realizados pelas empresas dos irmãos Batista em território americano. Esse era o valor máximo previsto pelo banco junto ao escritório americano de gastos com as investigações. Considerado alto pela gestão já nestes patamares, o contrato foi incrementado em outros 12 milhões de reais durante a gestão de Dyogo Oliveira, que ficou no comando da instituição entre março de 2017 e abril de 2018. Conforme as investigações caminhavam — e nada se encontrava —, a instituição contratava cada vez mais apurações. E aí chegou Bolsonaro.
Fissurado pela ideia de uma conspirata dentro da instituição, a gestão do capitão dobrou os gastos procurando pelo em ovo nas relações entre a JBS e o BNDES. Joaquim Levy, primeiro presidente do banco na gestão do atual presidente, insuflou a apuração em 9 milhões de reais. O atual presidente completou o périplo contra os fantasmas no BNDES: injetou mais 15 milhões de reais nas investigações. Segundo a coluna Radar, um dos sócios do escritório contratado pelo banco é Juan Giraldéz, testemunha de defesa do ex-presidente Lula na Lava Jato. O escritório foi contratado pela gestão para dar conselhos ao presidente da instituição em 2010, sob a gestão de Luciano Coutinho. Como VEJA revelou em agosto, as falcatruas dos governos petistas nunca estiveram no BNDES, mas, sim, na Camex, a Câmara de Comércio Exterior, sob a tutela do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Um gasto, comprovadamente, inútil.