O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, decidiu pela manutenção da Selic em 13,75% ao ano, pela quarta vez consecutiva. A decisão vem em linha com o consenso do mercado, apesar da crescente pressão por alívio monetário. A quebra de bancos estrangeiros, além da quase quebra do gigante Credit Suisse, soaram como um alerta sobre os juros elevados sendo praticados mundo afora, porém a pressão inflacionária persistente fez com que o BC decidisse pela continuidade dos juros a 13,75%, o maior patamar desde 2016.
“Considerando a incerteza ao redor de seus cenários, o Comitê segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por período prolongado será capaz de assegurar a convergência da inflação”, afirmou o colegiado, em comunicado, sinalizando que os juros elevados devem permanecer por mais tempo, apesar de uma desaceleração na atividade econômica global e doméstica.
O mercado projeta que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), principal medidor da inflação, chegue a 5,95% ao final de 2023, nível superior ao teto da meta estabelecida pelo Banco Central, que é de 4,75%. Também há mais pessimismo quanto a perspectivas de maior prazo, com a inflação para 2024 e 2025 próximas a 4%, segundo o Boletim Focus. Ao fim de janeiro, quando o banco deliberou sobre a Selic pela última vez antes da reunião desta quarta, a expectativa para o IPCA deste ano era de 5,74%. Essa deterioração da inflação estimulou o BC a seguir praticando juros elevados, a contragosto de segmentos econômicos e políticos. Atores políticos críticos a Campos Neto não negam a existência da inflação, mas argumentam que se trataria de um fenômeno concentrado no lado da oferta, não da demanda, o que faria a alta de juros não ter sentido.
O movimento do banco – de permanecer no mesmo lugar – é motivo para maior fricção entre a entidade e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem criticado duramente a política contracionista de Roberto Campos Neto, quando não sua própria figura, reforçando discursos da ala mais política do governo, como da presidente do PT, Gleisi Hoffmann. Do outro lado do partido, o ministro Fernando Haddad, da Fazenda, articula outro método, o propositivo. Inicialmente com um prazo para apresentar o novo arcabouço fiscal em agosto, Haddad agilizou consideravelmente o processo, concluindo o desenho da regra em março. Se dependesse do chefe da Fazenda, o projeto poderia ter sido apresentado antes da reunião do Copom, com a esperança de influenciar a decisão sobre os juros. Contudo, Lula demandou mais tempo para debater a questão, movendo-a para o mês de abril.
No comunicado, o Copom reitera que entre os fatores de riscos altistas para a inflação está “a incerteza sobre o arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública”, mas faz menção a reoneração dos combustíveis, em vigor desde 1° de março, como medida positiva a curto prazo. “Por outro lado, a conjuntura, marcada por alta volatilidade nos mercados financeiros e expectativas de inflação desancoradas em relação às metas em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária. O Comitê avalia que a desancoragem das expectativas de longo prazo eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas”, afirma.
O governo e sua base não são os únicos críticos fervorosos da opção do Banco Central. Comentários combativos vêm também de parte do setor privado, especialmente da indústria. Na véspera da última reunião do Copom, o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, chamou as taxas de juros de “pornográficas”. Em evento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), comandado pelo também crítico da Selic Aloizio Mercadante, o presidente da Fiesp argumentou que a política industrial defendida por ambas as instituições não pode ser efetiva com juros tão elevados.