A quarta-feira, 4, marcou o maior aumento da taxa básica de juros do Fed, o banco central dos EUA, desde 2000. O aumento em 0,5 ponto percentual é o segundo no ano e busca a redução da inflação no território americano, que atingiu 8,5% em março, na base anual. O movimento do Fed mira a inflação americana, porém, desencadeará possíveis efeitos no mercado externo, em especial nos países emergentes como o Brasil. Os títulos do Tesouro americano são considerados os mais seguros do mundo, e com o aumento de juros, tornam-se mais rentáveis para os investidores. Maior rentabilidade e segurança é o combo necessário para atrair investimento.
Para a economista-chefe da Veedha Investimentos, Camila Abdelmalack, o principal respingo no mercado brasileiro com a medida do Fed é a possível fuga de investimentos estrangeiros, forte em setores como a mineração e agropecuária. No atual contexto do Brasil, esse indicador compromete ainda mais a economia brasileira. “Para o crescimento da atividade econômica, importa também o investimento de longo prazo, que é a formação bruta de capital fixo. E esse investimento nós não observamos pelo fluxo do mercado financeiro e sim pelo Investimento Estrangeiro Direto (IED). O governo no Brasil tem as suas limitações, há pouco recurso para promover um investimento estrutural e o investimento privado e estrangeiro para alguns setores é primordial”, cita.
Na avaliação de Denis Medina, economista e professor da FAC-SP (Faculdade do Comércio), no curto prazo a medida do Fed pode impactar diretamente o nível de investimento no Brasil, sendo difícil precisar as consequência de médio e longo prazo, dada o grande número de variáveis. “Um pequeno aumento na taxa de juros dos EUA (em março) já fez alguns investidores retornarem para o país, com o aumento maior (desta quarta) é outro estímulo para o retorno de capital aos EUA e isso pode impactar principalmente na bolsa de valores, fazendo ela recuar um pouco mais”, avalia.
Apesar do aumento de meio ponto percentual, o mercado financeiro brasileiro reagiu bem à alta dos juros por lá. Isso porque Jerome Powell, presidente do Fed, disse que em nenhum momento foi cogitado um acréscimo maior do que o meio ponto percentual, como mostra VEJA Mercado. Com o temor de um aumento ainda mais afastado, os investidores se acalmaram e, em primeiro momento, a onda é positiva, mas é necessário atenção para o fluxo dos estrangeiros.
Tendências
No primeiro trimestre no Brasil, a alta nos preços dos commodities atraiu investimento externo no país e fez o real se valorizar em relação ao dólar. Atraídos, a princípio, pela rentabilidade com a taxa de juro de dois dígitos, os investidores começaram a repensar as suas decisões de investimento a partir de dois estímulos principais: a elevação inicial da taxa de juros nos EUA (em março) e o lockdown na China.
“No primeiro trimestre, o real se valorizou em relação ao dólar cerca de 15%. Quando veio o contexto do lockdown na China e a desaceleração da atividade econômica por lá, essa visão em relação às commodities ficou um pouco comprometida, principalmente as commodities metálicas, aumentando a aversão ao risco. Era isso que estava dando ímpeto à bolsa brasileira até março”, menciona Camila Abdelmalack.
No segundo trimestre de 2022, com uma eventual fuga de investimentos externos no Brasil – a partir da alta dos juros anunciada pelo Fed e a aversão ao risco com as commodities – o real pode ser desvalorizado ainda mais em relação ao dólar. Uma possível consequência, de médio prazo, é o maior impacto na inflação. “A gente só não viu uma inflação ainda mais forte devido à valorização recente da nossa taxa de câmbio no Brasil. A partir do momento que o real começa a perder força em relação ao dólar, talvez nós possamos sentir mais efeito na inflação, principalmente com os bens industrializados”, analisa Abdelmalack.