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As iniciativas para a criação de uma nova bolsa de valores no Rio

A prefeitura da cidade reduz impostos para facilitar a empreitada de abrigar uma concorrente da B3, de SP, mas o caminho será longo para a ideia vingar

Por Camila Barros Atualizado em 14 jun 2024, 11h30 - Publicado em 14 jun 2024, 06h00
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  • No final da década de 1960 e início dos anos 1970, a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro crescia em ritmo frenético. Esperançosos com o milagre econômico, os investidores impulsionaram a centenária BVRJ para uma alta de quase 5 000% em quatro anos, um desempenho que entraria para a história. No final de 1971, porém, a bolha especulativa estourou, resultando no pior crash financeiro do mercado brasileiro. Menos de duas décadas depois, outro duro golpe: em 1989, descobriu-se que o megainvestidor Naji Nahas utilizava operações falsas e cheques sem fundos para manipular o mercado. O escândalo abalou a reputação da bolsa do Rio, que perdeu espaço para a bolsa de São Paulo, até ser definitivamente incorporada por ela, no ano 2000. A trajetória oscilante parecia condenar o Rio de Janeiro a jamais sediar uma bolsa novamente. Agora, contudo, a cidade quer resgatar o velho passado — e, espera-se, sem as tramoias de antes.

    arte eco bolsa

    Há alguns dias, o prefeito Eduardo Paes encaminhou à Câmara de Vereadores do Rio um projeto de lei que reduz o Imposto sobre Serviços (ISS) incidente sobre atividades de bolsa de valores. A proposta é uma alíquota de 2%, ante os atuais 5%. “A nova bolsa de valores vai atrair agentes do setor financeiro e empresas interessadas em investir e se estabelecer na cidade”, diz Paes. “Temos a expectativa de aumento da oferta de serviços relacionados a esse mercado, como bancos, corretoras de investimentos e outras instituições financeiras.”

    A iniciativa municipal ocorre no momento em que surgem no setor privado movimentações de empresas interessadas em concorrer com a B3, a bolsa de São Paulo. Controlada pelo Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi, a companhia Americas Trading Group (ATG), especializada em fornecer tecnologia para negociações de ativos finan­cei­ros, planeja lançar uma nova bolsa brasileira no segundo semestre de 2025. Chamada ATS, ela provavelmente ficará sediada no Rio, mas também deverá manter operações em São Paulo. Por ora, a empresa aguarda a autorização do Banco Central para levar o projeto adiante. “Quando o país só tem uma bolsa, há mais risco sistêmico”, diz Claudio Pracownik, presidente da ATG. “Ter mais de uma bolsa é uma prova de maturidade do mercado.”

    MONOPÓLIO - B3, em São Paulo: a concorrência deverá beneficiar investidores
    MONOPÓLIO - B3, em São Paulo: a concorrência deverá beneficiar investidores (Cris Faga/Getty Images)
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    Não se trata do único projeto em gestação. A registradora de ativos financeiros CSD espera receber ainda em 2024 as licenças para fazer a liquidação e a custódia de ativos. Após essas autorizações, a companhia buscará o registro como contraparte central, última peça para que possa atuar como bolsa — o que, pelo cronograma do projeto, deverá ocorrer em meados de 2027. “O monopólio da B3 deixou o mercado parado”, diz Edivar Queiroz, presidente da CSD BR. “Acreditamos que, com melhores infraestruturas financeiras, o mercado brasileiro poderá aumentar em até quatro vezes.” A CSD não definiu onde será a sua sede. “O Rio foi berço de várias instituições financeiras e, por isso, é um potencial ponto para nós”, afirma Queiroz.

    GOLPE - O megainvestidor Naji Nahas: operações falsas e cheques sem fundos para manipular o mercado
    GOLPE - O megainvestidor Naji Nahas: operações falsas e cheques sem fundos para manipular o mercado (Lailson Santos/VEJA)

    Na América Latina, Argentina, Equador, Chile e Uruguai possuem mais de uma bolsa de valores. No mundo, os Estados Unidos são líderes na descentralização de mercado: Nyse e Nasdaq são as principais, mas, entre bolsas regionais ou focadas em produtos específicos, há pelo menos quinze em operação. Além de ATG e CSD, outros projetos tomam corpo no Brasil. “O Banco Central apoia o aumento da concorrência, e a Comissão de Valores Mobiliários não se opõe a termos novas infraestruturas”, diz André Duvivier, presidente da SL Tools, fintech que busca a certificação para se tornar um balcão organizado (ambiente de compra e venda de ativos fora da bolsa de valores) e concorrer com a B3 no segmento de renda fixa. Além de atrair mais empresas para o mercado de capitais, novas bolsas poderiam reduzir os valores das taxas cobradas dos investidores. O tempo dirá se, como muitos outros projetos no Brasil, a Bolsa do Rio não vai morrer na praia.

    Publicado em VEJA de 14 de junho de 2024, edição nº 2897

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