Com um discurso-relâmpago, o presidente Jair Bolsonaro fez sua estreia internacional nesta terça-feira, 22, no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça. Comparado com seus antecessores, Bolsonaro foi o que mais economizou no tempo: falou por quinze minutos, contando o discurso e a seção de perguntas e respostas.
Em 2018, Michel Temer falou pelo dobro do tempo: cerca de trinta minutos. Dilma Rousseff foi uma única vez a Davos, em 2014. Seu discurso foi nove minutos mais curto que o de Temer.
Como Bolsonaro, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez sua estreia em Davos logo após tomar posse do cargo, em 2003. Ela participou ainda de outros dois fóruns econômicos: 2005 e 2007. Conhecido pelos longos discursos, Lula falou por quase quarenta minutos em 2007.
Não é só na duração que os discursos evidenciam as diferenças entre cada um dos presidentes. Em sua estreia em Davos, Lula não citou a reforma trabalhista nem a previdenciária, mas a agrária. Já Temer, que assumiu a Presidência após o impeachment de Dilma, foi o que mais falou sobre reformas: oito vezes ao todo.
A palavra Deus foi citada por Lula e Bolsonaro, mas em diferentes contextos. Lula citou o Deus do mercado, enquanto Bolsonaro mencionou um dos seus slogans: Deus acima de tudo.
Veja abaixo como foram os discursos de Lula, Dilma, Temer e Bolsonaro em Davos:
Lula em 2003
Em seu discurso, o petista disse que a prioridade de seu governo seria o combate à fome. “A face mais visível dessas disparidades são os mais de 45 milhões de brasileiros que vivem abaixo da linha da pobreza. O seu lado mais dramático é a fome, que atinge dezenas de milhões de irmãos e irmãs brasileiras. Por essa razão, fizemos do combate à fome nossa prioridade. Não me cansarei de repetir o compromisso de assegurar que os brasileiros possam, todo dia, tomar café, almoçar e jantar.”
O petista não se aprofundou no tema reformas. “Na Carta ao Povo Brasileiro, reafirmei a disposição de realizar reformas econômicas, sociais e políticas muito profundas, respeitando contratos e assegurando o equilíbrio econômico.”
Lula incluiu um dos slogans de sua campanha no discurso de Davos. “Meu maior desejo é que a esperança que venceu o medo, no meu país, também contribua para vencê-lo em todo o mundo. Precisamos, urgentemente, nos unir em torno de um pacto mundial pela paz e contra a fome.”
Além de Bolsonaro, Lula também citou Deus em seu discurso, mas não aquele da religião. “Aqui, em Davos, convencionou-se dizer que hoje existe um único Deus: o mercado. Mas a liberdade de mercado pressupõe, antes de tudo, a liberdade e a segurança dos cidadãos.”
Dilma em 2014
Em seu discurso, Dilma não mencionou o tema reformas econômicas. Ela disse que o Brasil era um país vivia um período de transformações econômicas que melhoravam a vida da sociedade. “O Brasil, por sua vez, vem experimentando uma profunda transformação social nos últimos anos. Estamos nos tornando, por meio de um processo acelerado de ascensão social, uma nação dominantemente de classe média. […] A renda per capita mediana das famílias brasileiras cresceu 78% no mesmo período. Nos últimos três anos, nós geramos 4,5 milhões de novos empregos.”
A petista mencionou os protestos deflagrados em junho de 2013 contra o aumento das passagens do transporte público. “O meu governo não reprimiu, pelo contrário, ouviu e compreendeu a voz das ruas. Os manifestantes não pediram a vida do passado, não pediram uma volta atrás. Pediram, sim, o avanço para um futuro de mais direitos, mais participação e mais conquistas sociais.”
Dilma disse que seu governo não iria ‘transigir’ com a inflação e prometeu manter a responsabilidade fiscal. “No Brasil, as despesas correntes do governo federal estão sob controle e houve uma melhora qualitativa das contas públicas nos últimos anos.”
Temer em 2018
Após a participação de Dilma, o Brasil ficou três anos sem enviar um presidente a Davos. O retorno aconteceu em 2018, com Temer. Ele foi o presidente que mais falou sobre reformas em Davos – a palavra foi mencionada oito vezes em seu discurso.
“Nesse curto período, transformamos o Brasil. Levamos adiante uma ampla agenda de reformas para modernizar a economia, o ambiente de negócios, o mercado de trabalho, a gestão pública, a administração de empresas estatais. Uma agenda de reformas que é reconhecida como a mais abrangente implementada no Brasil em muito tempo”, afirmou.
Ele criticou a má gestão dos governos petistas. “Ao lidar com a crise que herdamos, rejeitamos, desde logo, os falsos atalhos populistas. Havia que governar com visão de longo prazo. Nosso diagnóstico foi e é inequívoco: o populismo nos legara uma crise grave de origem fiscal – e somente a responsabilidade nos tiraria dessa crise.”
Temer tocou em outro ponto fraco da sua antecessora: a falta de diálogo com o Congresso. “Antes esgarçadas, as relações entre o governo e o Congresso Nacional foram recompostas – e o Legislativo, como deve ser em democracias, tornou-se protagonista da obra coletiva que é a reconstrução do Brasil. Para cumprir a missão que nos cabe, é preciso saber ouvir, é preciso saber persuadir, é preciso saber agregar, sem intransigências.”
Apesar da promessa em Davos, Temer não teve sucesso com a reforma da Previdência. “Nosso próximo passo é consertar a Previdência, tarefa em que estamos muito empenhados. […] Vamos batalhar, dia e noite, voto a voto, para aprovar a proposta que está no Congresso. Nossas reformas, aliás, têm sido aprovadas com maiorias muito sólidas no Parlamento,”
Bolsonaro em 2019
Sem citar a Previdência, Bolsonaro afirmou que seu governo fará as reformas que o mundo espera. “Gozamos de credibilidade para fazer as reformas de que precisamos e que o mundo espera de nós.”
Bolsonaro afirmou que o Brasil é o que mais preserva o meio ambiente. “Nossa missão agora é avançar na compatibilização entre a preservação do meio ambiente e da biodiversidade com o necessário desenvolvimento econômico, lembrando que são interdependentes e indissociáveis.”
Como promete desde a campanha, Bolsonaro disse que vai “diminuir a carga tributária, simplificar as normas, facilitando a vida de quem deseja produzir, empreender, investir e gerar empregos”.
O presidente também trouxe para seu discurso alguns temas conservadores, como a defesa do direito à vida. “Vamos defender a família e os verdadeiros direitos humanos; proteger o direito à vida e à propriedade privada e promover uma educação que prepare nossa juventude para os desafios da quarta revolução industrial, buscando, pelo conhecimento, reduzir a pobreza e a miséria.”
Como Lula, ele usou o slogan de sua campanha em Davos. “Tendo como lema “Deus acima de tudo”, acredito que nossas relações trarão infindáveis progressos para todos.”